quarta-feira, 10 de julho de 2013

PARADA DE ÔNIBUS - A CONSULTA (parte III)

- Bom dia. Quanto tempo eu não te vejo por aqui. – disse o jovem que estava chegando na parada de ônibus.
- Bom dia. Pois é, tem uma colega do trabalho que mora aqui por perto e tem me dado carona. – disse a loira senhora sorrindo para o seu colega de parada.
- E hoje ela não vai?
- Não. Ela esta doente.
- Ah tá. Também com esse tempo maluco não tem quem não fique no mínimo gripado.
- Pois não é?! – segue um minuto de silêncio. – Na verdade ela não deve estar doente.
- Como assim? – disse o “amigo” sem entender.
- Ela deve ter fingido essa desculpa para não me dar carona. – disse ela ainda com um sorriso no rosto como se não ligasse.
- Mas porque ela faria isso? Não foi ela que ofereceu a carona?
- Exatamente. – disse demostrando insatisfação. – Não fui eu que pedi. Ela que ofereceu.
- Eu heim. Povo louco.
- Vaca! Isso é o que ela é. Uma vaca! – já não conseguindo conter a raiva.
- É. – concordou assustado o jovem meio incerto se deveria comentar alguma coisa.
- Sabe o que essa vaca fez? – disse virando de frente para o confidente e encarando-o. Em que furada que ele foi se meter.
- Ela fez algo mais além dessa sacanagem?
- Se ela fez algo? Ora se fez. Sabe o que ela fez? – já respondendo antes mesmo dele pensar no que falar – Ela espalhou para o colégio todo que eu era uma chata que fica ligando de madrugada para ela pedindo carona e que além de pedir eu ainda fico cobrando os dias que ela atrasa. – parou para respirar.
- Que mulher sem noção.
- E sabe o que realmente acontece? Primeiro, eu nunca pedi carona para ela, todas a vezes foi ela que ofereceu. – disse enumerando com os dedos. - Segundo, eu não fico ligando para ela de madrugada para lembra-la da carona. Terceiro, os dois dias que liguei pra ela de manhã foi porque ela tinha ficado de me dar carona e eu fiquei esperando por ela mais de meia hora do horário combinado e eu liguei mais para saber se tinha acontecido alguma coisa do que pela carona. E pior, ela não ia para o colégio e nem me ligou para avisar, resultado, cheguei 1 hora e meia atrasada.
- Tem gente que faz cada escolha bizarra para fugir da situação de dizer a verdade. Custava ela chegar a você e falar que não ia dar mais a carona? Sei lá. Poderia dizer que ela vai um pouco mais tarde do horário que você normalmente vai.
- Pois é. Qualquer coisa seria melhor do que espalhar uma mentira e ainda me pintar de chata diante dos outros.
- Desminta esse boato mulher.
- Deixa quieto. Não vai valer a pena o esforço – disse descontente – Sem contar que vai ser a palavra de uma contra a outra, a mentira nunca vai ser realmente desmentida.
- Verdade
- Ahhh, mas como eu fico possessa com essas coisas. – disse bufando. – Eu faço questão agora de nunca mais pegar carona com ela.
- Não acredito que ela ainda tenha cara de pau de oferecer carona depois disso. – disse o garoto descrente.
- Eu não duvido. Bem capaz dela agir como se nada tivesse acontecido. Aquela falsa. – parou um pouco para respirar e então não conseguiu conter. – Mas eu não aceito mais a sua carona. - mais uma pausa -Vaca.
- Mas não deixe isso abalar você não. Deixe ela para lá, não pegue mais carona com ela e se limite apenas a dirigi-la frases cordiais como “oi” e “bom dia”.
- Verdade. As pessoas que me conhecem sabe que eu não faria algo assim.
- Pois é.
- Mas que dá raiva conviver com gente falsa assim isso dá. – disse olhando para a rua para ver se o seu ônibus estava vindo, mas ela leva um susto quando vê um Siena branco vindo no final da rua. – Olha lá. É ela.
- Sério? – disse o jovem curioso procurando o carro.
- Sim. O Siena branco. Aposta quanto que ela vai passar por aqui e fingir que nem me viu?!

Enquanto a senhora disfarçava, o seu colega ficava observando o Siena para ver o que ia acontecer. Quando o carro foi chegando perto da parada ele foi diminuindo a velocidade até parar de frente a parada de ônibus onde os dois estavam. A senhora continuou a fingir que não estava vendo. A mulher que estava dentro do carro buzinou. Vendo que não poderia mais fingir a loira virou para sua falsa amiga e a viu acenando para ela entrar no carro com um sorriso no rosto. A senhora olhou para o seu confidente, olhou para o carro, voltou a olhar seu confidente e no meio da confusão da situação ela se levantou deu um breve “tchau” sem graça para o seu companheiro e entrou no carro esbanjando simpatia.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Resenha - A Bússola de Ouro

Philip Pullman
A Bússola de Ouro
Editora: Objetiva
Rio de Janeiro, 2007 – 365 páginas
Idioma original: Inglês
Tradutor: Eliana Sabino

Entre os amigos sempre escutei falar muito no escritor Philip Pullman e sempre eram comentários positivos, entretanto tinha certo preconceito com esta obra literária A Bússola de Ouro, pois achei o filme muito fraco, todavia quando descobri que essa história foi criada pelo tão bem falado Philip Pullman fiquei curioso em ler o livro e resolvi dar uma chance a história.
O livro fala sobre uma menina superativa, brincalhona e corajosa chamada Lyra. Sem saber ela se envolve numa trama muito maior do que o seu universo infantil e quando percebe já esta numa aventura para descobrir os mistérios do Pó, guerreando em batalhas e junto a isso descobre o seu passado e a importância que ela tem para o futuro do mundo.
Apesar da história se passar no mundo que conhecemos, a realidade destes personagens é bem diferente, pois vivem num mundo cheio de mistérios e magia, cuja alma de cada humano é personificada num dimon, um animal mágico que vive a vida inteira com seu humano, um não vivendo sem o outro. Além dos dimons tem também a presença de feiticeiras, ursos polares de armadura e outras criaturas mágicas que dá o toque fantástico a história.
Ao contrário do filme, no livro a história é mais bem desenvolvida, os dramas são mais reais e a progressão é contínua e bem explicada. Pullman consegue incitar o mistério nas doses corretas, nos deixando sempre na curiosidade e por consequência sempre interessados em ler o desenrolar da história. Apesar dos capítulos serem consideravelmente grandes, Pullman não enrola na história para deixar a emoção no final de cada capitulo, ele vai soltando a cada página uma dica de como vai se desenrolar o mistério, prendendo assim o leitor da primeira palavra a ultima.
Entretanto existe um momento anticlímax no enredo, pois durante quase todo o livro o principal objetivo dos personagens principais era de resgatar as crianças que estavam sendo raptadas e a batalha que eles teriam que enfrentar, mas esta cena tão esperada não acontece no final do livro e sim no decorrer dos 80% da história, ficando a cena do urso e o resgate de Asriel no final do livro, que apesar de ser também algo importante para a continuação da história, não era o ponto alto deste primeiro livro. Acredito que esse resgate estaria melhor empregado no inicio do segundo livro ou que ocorresse antes do resgate das crianças e a batalha em Bolvangar.
Tirando também a narrativa que as vezes se tornava um pouco infantil, principalmente as falas que ao meu ver poderiam ser mais bem desenvolvidas, a obra é muito boa, envolvente e cativante. Fiquei com vontade de ler os outros dois livros da saga para saber o desenrolar da história, pois ficou claro que o livro A Bússola de Ouro é só uma introdução para algo muito maior que estar por vir. Recomendo para todos aqueles que querem desopilar lendo algo leve e divertido.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Poemas

RETA



Lembro-me com nítida perfeição
Que a minha reta nunca foi reta
Tinha pequenas imperfeições
Algumas ondulações
Algumas bifurcações
Até cabelo algumas tinham

Lembro-me do sentimento de frustração
Das linhas tortas no papel
Da repetição insistente
E da falsa ideia de melhora
Dos ângulos se tornando curvas
E das curvas se tornando retas

Lembro-me da satisfação
Depois de tamanho esforço
Depois de tamanha dedicação
Depois de tanto tempo
Finalmente alcancei o objetivo
Minha reta esta finalmente reta

Lembro-me há um tempo atrás
Logo depois da conquista
O orgulho embevecido
A obrigação de refazer a mesma reta
Andar sempre com papel e lápis no bolso
E mostrar para todos o meu sucesso

Lembro-me também da monotonia
Da repetição, da mesmice
Fácil ficou rabiscá-la no papel
Nunca mais curvas, cabelos ou bifurcações
Sim, minha reta era uma reta
E uma reta seria eternamente

Lembro-me de ontem
Das saudades que sinto das curvas
E porque não dizer dos cabelos e bifurcações
A reta é a perfeição que conquistei
Mas uma reta que é sempre reta
Tira todo o sentido da perfeição

Peguei o papel, o lápis e rabisquei
Uma, duas, três...infinitas vezes
Só perfeitas reta desenhei
Então chorei, pois soube neste momento
Que minhas retas nunca mais seriam tortas
E a minha torta vida seria sempre reta

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Cura Gay



Sim. Estão tentando eliminar os homossexuais, controlá-los, catalogá-los, classificá-los, definir esta opção como uma doença que corrompe, não o corpo, mas a alma, a dignidade e a moral, como fizeram com os negros na época da escravidão, os pagão na inquisição e os judeus na Segunda Guerra Mundial. Dizem que estão querendo ajudar, curar essa “doença”, evitar que as pessoas se desviem dos caminhos designados por Deus como o certo, o correto e principalmente, o único.
Defendem a liberdade de expressão, a liberdade religiosa, a família tradicional e a vida, entretanto, com a máxima compreensão que temos sobre a palavra paradoxo, eles estão reprimindo a liberdade de expressão, o direito de escolha e o direito de se expressar publicamente sem ser taxado como portador de uma grave doença. Mas do que nunca estamos presenciando o verdadeiro significado na frase: “o direito de um termina onde começa o do outro”.
Um fato engraçado (um triste engraçado se isso for possível) é que mesmo todos reconhecendo as atrocidades que foram causadas por Hitler, cujo até os alemãs sentem vergonha desse acontecimento chegando ao ponto de “proibirem” falar sobre esse fato historio lá (o que acho um exagero), hoje mesmo com toda essa compreensão sobre repressão e preconceito, existem pessoas que pregam o mesmo que o carismático Sr. Bigodinho. Só existem duas diferenças: 1º- hoje as pessoas não querem matar, "só" repreender e disseminar o preconceito já a satisfazem; 2º- enquanto antigamente seus motivos eram ditos baseados em fatos científicos, hoje justificam essa afronta aos homossexuais em nome de Deus.
O que classifica essas pessoas ditas seguidores dos caminhos de Deus superiores aos homossexuais? O que é pior, manter numa sociedade um gay que é solidário, justo, digno, honrado ou um homem que vai todos os finais de semana a igreja, diz seguir seus dogmas e todo mês colabora financeiramente para com sua congregação, mas bate na esposa e filhos, rouba, bebe, mente e é adúltero? Digam-me de que forma a opção sexual de uma pessoa pode determinar a sua índole ou seu comportamento perante a sociedade?
Não costumo expor minhas opiniões em público de maneira tão direta como estou fazendo agora, pois o que não falta no mundo atual é gente para gladiarem virtualmente suas opiniões sobre determinando tema. Não que não tenha opinião sobre os temas mais polêmicos que tem assolado o mundo, mas sou mais discreto, exponho minhas opiniões para aqueles realmente interessados em ouvi-la, entretanto li uma matéria ontem que me deixou embasbacado com tamanho absurdo. Claro que poderia escrever uma crônica, criar um poema ou até compor uma musica abordando o assunto como normalmente faço, mas achei tão grotesca a idéia de uma “cura gay” que não ia ter estomago para fazer algo mais lírico do que isso.
Na terça-feira passada (04/06/13) foi reaberta uma assembléia para se discutir pela terceira vez a aprovação da proposta feita pelo presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara para ser autorizado o tratamento psicológico ou a terapia para alterar a orientação sexual dos homossexuais e esse processo esta sendo chamado de “a cura gay”. Custo a acreditar que uma pessoa que se diz religiosa chegasse a tal agressão. Se você não concorda, não acha certo, tudo bem, essa é uma opinião sua e ninguém pode fazer nada sobre isso, e também não vejo problema desde que essa opinião particular não se transforme em ações preconceituosas. Assim como as pessoas de outras religiões respeitam a sua escolha, espero que você respeite a opção sexual dos outros, mesmo sendo contra.
O mais inacreditável dessa história toda é ver que uma pessoa que esta num cargo publico representando os direitos humanos e minorias tenta com tanto afinco descriminar uma parte da população que já sofre com tanto preconceito. Como uma pessoa que tem voz para falar representando milhares outras pode não discernir os preceitos de sua religião com suas obrigações perante a sociedade? Será que ele não sabe que não esta representando apenas os evangélicos e sim uma grande massa da população que tem opiniões religiosas diversas? Será que uma pessoa que não esteja disposta a compreender outros argumentos se não os da própria religião pode estar exercendo um cargo tão representativo?
Chegamos a um extremismo tão grande que quem concorda com a lei é fanático religioso e preconceituoso, enquanto que as pessoas que são contra a aprovação dessa lei são gays. Não se discute mais de maneira civilizada, não se fala, não se escuta, não ouvimos a nós mesmo. Estamos completamente nus e surdos no breu e no desespero cada um protege o que é do seu interesse e ignora o próximo.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Resenha - As Vantagens de Ser Invisível



 Stephen Chbosky

As Vantagens de Der Invisível

Editora: Rocco

Rio de Janeiro, 2007 - 224 páginas

Idioma original: Inglês

Tradutor: Ryta Vinagre
Depois de assistir o filme do mesmo nome, fiquei com um desejo imenso de ler este livro, pois esperava, como segue a regra, que o livro fosse mais profundo e melhor narrado do que o filme, entretanto, mesmo raro, encontrei a exceção a regra.
O livro conta a história de Charlie, um garoto de 15 anos, retraído, extremamente tímido, inteligente, porém muito inocente em relação a vida e ao convívio social. Logo de cara percebe-se que ele teve algum problema psicológico no passado, pois embora calmo, vira e mexe ele comenta sobre o que o incomoda e com medo explodir num surto, começa a chorar.
Ele começa a se socializar melhor com as outras pessoas (fora a sua família) quando conhece Patrick e sua irmã Sam que vêem no novo amigo uma pessoa pura e inocente e acabam o “adotando” e apresentando-o ao seu grupo de amigos. Charlie por sua vez começa a entrar numa nova fase da vida e a sentir novos sentimentos e emoções, muitas vezes não sabendo reagir em certas situações.
É exatamente neste ponto em que o livro se diferencia do filme. Embora no filme essa inocência de Charlie seja bem marcante, ela não passa do limite do irreal como acontece no livro, ou pelo menos disfarça com mais sutileza. Existem situações em que fica difícil acreditar que o protagonista é um garoto de 15 anos com uma inocência maior que o comum para garotos nesta idade, tem horas que ele reage como se fosse um garoto inocente de 11 anos ou um garoto de 15 anos com algum retardo mental.
Outra coisa que me incomodou um pouco foi a estrutura em que o livro foi escrito, como se cada capitulo fosse uma carta que o protagonista estivesse enviando para alguém. Cada vez mais me convenço o quanto é difícil escrever um livro bom neste estilo, este ano já li três nesta estrutura e só o que me agradou foi “Precisamos falar sobre Kevin”. Acho que essa estrutura não deixa a história fluir como deveria e também muitas vezes acontece de o escritor se perder quando escreve um livro inteiro na primeira pessoa, ora escreve com uma linguagem popular, no caso, como se fosse um garoto de 15 anos escrevendo e ora escreve numa linguagem mais rebuscada o que contradiz com a proposta do livro.
Entretanto a essência da história continua sendo muito boa e profunda, abordando vários temas como a homossexualidade, o abuso sexual infantil, os transtornos e traumas que uma pessoa pode desenvolver sobre uma coisa que aconteceu na sua infância, a relação família e o confuso mundo de escolhas e decisões dos adolescentes que estão ingressando na fase adulta. Sem contar as ótimas referencias musicais e literárias que estão presentes no livro do começo ao fim.
Para aqueles que fazem questão de ler o livro, eu recomendo, garanto que não vão desperdiçar o tempo de vocês, mas para aqueles que não fazem tanta questão recomendo que assistam só ao filme (esse é o tipo de filme que a pessoa tem que assistir pelo menos uma vez na vida), pois acho que a mensagem esta melhor elaborada nele.

PARADA DE ÔNIBUS – A CONSULTA (parte II)



- Oi. Você é engenheiro?
- Oi. – respondeu assustado o jovem pela abordagem inesperada da estranha. – Serei um dia se Deus quiser. Estou estudando engenharia.
- Imaginei pela farda que você usa para ir trabalhar.
- Hum. – esboçando um sorriso de simpatia.
- Onde fica a empresa que você trabalha?
- Em São Gonçalo do Amarante. – respondeu automaticamente ainda pensando no porque do interesse.
- Nossa é muito longe. Ainda bem que a empresa disponibiliza um ônibus para vocês né?!
- É. Se não fosse isso teria que pegar 3 ônibus para chegar lá.
- Pesado essa rotina.
- É.
- Eu já trabalhei numa empresa de engenharia também. Para falar a verdade foi meu último emprego antes desse que estou agora.
- Legal. Você fazia o que lá?
- Era da faxina, mas acabei achando melhor ir para essa creche que trabalho. É mais parto de casa.
- Hum. – disse o rapaz virando o rosto achando que a conversa tinha acabado.
- O sonho do meu filho era ser engenheiro. – voltou a comentar a senhora como se a conversa não tivesse morrido.
- Ele vai fazer vestibular para engenharia.
- Não. Ele já se formou em administração e acabou de passar num concurso. – disse cheia de orgulho.
- Nossa, parabéns pra ele.
- Pois é. O mais novo também fez um concurso a pouco tempo. To torcendo muito para ele passar. – respirou cheia de orgulho.
- Que bom. Espero que dê tudo certo.
- Também espero. Sabe que já era para eu me aposentar desdo ano passado né?! To tão cansada, esse trabalho é muito estressante. Sem contar a minha saúde. Eu tenho um problema sério de audição sabe, praticamente não escuto do lado direito.
- Nossa! – disse o rapaz arregalando os olhos demonstrando espanto.
- E meu outro ouvido funciona só 50%. – disse a senhora ignorando a exclamação do rapaz – Fui ao médico há umas semanas atrás e ele disse que vou ter que fazer uma cirurgia e ainda assim vou ter que usar um aparelho.
- Mesmo com a cirurgia vai ter que usar o aparelho?! – disse demonstrando interesse.
- E esse aparelho é muito caro. – continuou sem nem ligar para o comentário do seu confidente. – mas o doutor falou que tem um jeito de conseguir de graça, é alguma coisa relacionada com um plano do Banco do Brasil.
- Que bom. Espero que consiga. – disse ele já duvidando que a senhora estava escutando qualquer um dos seus comentários.
- Acho difícil conseguir. – respondeu, mas ele ficou sem saber se estava respondendo por causa do seu comentário ou estava apenas completando o raciocínio anterior. – O doutor falou que consigo, mas acho que não.
- Hum. – resolveu não fazer nenhum comentário até ela terminar a história toda.
- Você não sabe como é a dor. As vezes dói tanto, mais tanto que fico com dor de cabaça o dia todo. Ainda mais trabalhando numa creche onde tem criança chorando e gritando para todo lado.
- Verdade.
- E nem sei se vou conseguir fazer essa cirurgia. A diretora do colégio já ficou reclamando por eu ter tirado dois dias de licença por causa da dor de ouvido.
- Mas é um direito seu. Principalmente se você tem como respaldo o atestado médico.
- É que ela fica falando que eu deveria ter visto isso nas minhas férias. O pior é que passei as férias todas fazendo exame. Parece que nem descansei. – disse com amargura da voz por ter perdido as férias em hospitais – Só fico imaginando quando eu for informar que vou ter que fazer a cirurgia e que por isso vou ter q ficar duas semanas de repouso.
- Hum. Complicado. Mas você e nem ela podem fazer nada. É questão de saúde.
- Foi o que o doutor falou. Disse a ele que ia esperar até as próximas férias para fazer a cirurgia, ele foi logo falando que a cirurgia não poderia esperar, que eu poderia perder a audição por completo até lá.- disse ela sem respirar. – ai eu disse: “e o meu trabalho?”, ai ele falou: “exatamente por isso que a cirurgia tem que ser feita logo, como você pretende trabalhar quando perder completamente a audição?” – falou fazendo uma imitação tosca da voz do médico - E vai ser isso que eu vou falar pra ela.
- Ele está certo.
- O doutor é muito legal sabe. Ele esta me apoiando em tudo.
- Hum. Que bom. – Disse o engenheiro já se levantando do banco da parada de ônibus, pois enfim via o seu ônibus chegando mais a frente.
- É. É um homem muito bom. – falou a senhora olhando para o nada com expressão de reflexão, mas esse momento durou apenas alguns segundos, logo depois ela se desembestou a falar novamente – Então, se meus dois filhos forem concursados eu vou me aposentar sabe.
- Sério mesmo?! – exclamou o jovem engenheiro com desespero em ver que seu ônibus parou no semáforo mais a frente.
- Sério. Eu não queria não, mesmo estando cansada assim, mas meus filhos já falaram que querem que eu pare de trabalhar. Que eu deveria ficar em casa para descansar e cuidar da saúde.
- Vá descansar, faz bem pra saúde. – disse olhando o tempo todo para a rua em direção ao ônibus da empresa. Nunca aquele semáforo demorou tanto.
- Eita! Seu ônibus ali né?!
- Pois é. – disse ainda olhando o ônibus parado. – Espero que dê tudo certo. A cirurgia, o concurso do seu filho, a aposentadoria.
- A sim, espero que meu filho mais novo passe no concurso.
- Uhum. – finalmente o ônibus começou a andar.
- E o meu mais velho queria tanto fazer engenharia.
- É – “Graças a Deus ele esta chegando. Como essa mulher fala” pensou.
- Será que ainda dá tempo dele fazer?
- Quem sabe? – disse o jovem pensando: “eu tenho um imã para essas pessoas que gostam de falar sobre toda a sua vida pessoal com estranhos”.
- Acho que ele gostaria. Vou dar a idéia para ele.
- Uhum. – “tudo o que eu queria de manhã era pegar o ônibus em silencio, escutando uma musica e dormir na viagem até o meu trabalho. Só isso”
- Mas ele deve estar cansado, ele estudou muito para passar no concurso.
- É. – “meu Deus por que esse ônibus esta demorando tanto? São nem 200 metros”
- Gostei de você. Vou falar para o meu filho que conheci um engenheiro muito legal.
- Rsrsrsr - riu o garoto aliviado por ter o ônibus parado na sua frente. – Bom vou nessa. Prazer.
- Prazer foi meu. Bom trabalho.
- Valeu. Tchau. – despediu-se já subindo no ônibus.
- Tchau. Até amanhã. Depois te conto o que o meu filho disse.
- Ta. – disse já pedindo para o motorista acelerar.
- Tchau.
“Contar o que o filho disse? Sobre o que? Eu perguntei alguma coisa?” pensou o rapaz ao se sentar.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Resenha - Filhos do Éden: Herdeiros de Atlântida (livro 1)



Eduardo Spohr
Filhos do Éden: Herdeiros de Atlântida (livro 1)
Editora: Verus
Rio de Janeiro, 2011 - 473 páginas
Idioma original: Português

Atualmente, com o aumento de procura dos jovens por livro, a produção de livros aventura/fantasia tem crescido bastante, dando a oportunidade de novos escritores aparecerem e mostrarem a sua obra. Apesar de não ser comum na literatura brasileira esse tipo de leitura, estão surgindo uma nova geração de escritores que estão conseguindo obter sucesso nessa área e um deles é Eduardo Spohr.
Fugindo um pouco da febre das histórias de vampiros e lobisomens que esta assolando o universo literário na atualidade, Spohr resolve escrever sobre o universo dos anjos. Filhos do Éden é uma saga que conta a história que precede o seu primeiro livro “A Batalha do Apocalipse”. Neste primeiro livro da saga a história gira em torno da misteriosa Atlântida, pois esta é uma peça importante para o desenrolar da batalha entre os anjos.
A história começa com Levih e Urakin procurando por dois anjos desaparecidos, eles tem a missão de encontrá-los, se preciso resgatá-los e ajudá-los a terminar a missão que lhes foi cabida. Entre perseguições e fugas, Denyel, um anjo exilado acaba entrando ao grupo e mesmo relutante no inicio, torna-se uma peça importante para o desenrolar da missão desses anjos.
O universo que Spohr criou é muito bem definido e explicado. Durante a história ele vai nos integrando ao mundo dos anjos, explicando como funciona os sete céus, em quantas castas os anjos se dividem e quais as suas características, a diferença entre anjos, demônios e fantasmas e principalmente a razão da guerra entre os anjos.
O que mais me prende nesse livro é a explicação da origem da vida, de quem é Deus, ou no caso Yahweh, a explicação das catástrofes bíblicas, a inveja que os anjos tem dos humanos, a história de como alguns anjos acabaram simpatizando com os humanos e se rebelaram contra o príncipe dos anjos e seu exercito, Spohr conseguiu até explicar de uma maneira plausível como pode coexistir os deuses das religiões politeístas e o Deus cristão que criou o universo, ou seja, o que mais prende o leitor ao livro não é a trama que esta se desenrolando com os personagens principais e sim o universo em que a história foi criada.
Entretanto algumas passagens me incomodaram um pouco. No começo do livro parecia que Spohr iria cometer o mesmo erro do seu primeiro livro. Em “A Batalha do Apocalipse”, Spohr faz descrições e explicações desnecessárias, como explicar a sentimento que o personagem esta expressando no momento, quando fica claro pela personalidade que ele vem demonstrando até então e a forma como ele falou, tornando assim a descrição redundante. Esse “erro” é típico de quem esta começando a escrever e com medo de o leitor não entender o que quis dizer, acaba reescrevendo uma coisa que dava para interpretar. No primeiro livro de “Filhos do Éden” parecia que Spohr iria cometer o mesmo erro, mas da 60ª pagina em diante, essa redundância já não se apresenta no enredo o que fez com que me envolvesse ainda mais com o livro.
Meu maior medo em ler a continuação deste livro é ver como o autor vai lidar com a personagem Kaira, pois no livro em questão, apesar de ser um anjo, ela ficou bastante humanizada, mas era justificável esse seu comportamento, entretanto para o próximo não se justificaria mais suas reações emotivas e intempestivas, seu comportamento tem que ser mais compatíveis com as dos anjos e mais especificamente as características de sua casta.
Para quem gosta desse estilo de leitura eu recomendo o livro. Ele é bem escrito, as batalhas bem descritas, a história e os personagens bem desenvolvidos. Sem contar que como amante de boas histórias de aventura/fantasia, é sempre bom ver um escritor brasileiro se dando bem ao produzir esse tipo de obra. Eduardo Spohr entra junto com André Vianco no Hal dos poucos brasileiros que tiveram sucesso com esse tipo de literatura e com certeza estarei lendo sempre que possível outras obras dele.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Poemas - Especial Dia das Mães



LEGADO DE MÃE

Do escuro e silencioso ambiente
Aconchegado em concha espero
Uma voz vem perturbar meu descanso
Sinto seu acalento e desperto a curiosidade
Preciso conhecer a dona dessa voz que me alegra

Em seus braços fui acarinhado assim que cheguei
Talvez por não ter dentes meu sorriso a fazia chorar
Mas mesmo chorando sentia seu coração acelerar
Minhas sujeiras você limpava e de madrugada te acordava
Cansada sei que estava, mas mesmo assim você nunca faltava

E assim fui crescendo
Trocando minha chupeta por um presente de natal
Sua ausência foi tendo intervalos cada vez maiores
Passei a esperar ansioso a noite para a hora da história
E jogos de tabuleiros e piqueniques nos reuniam todo final de semana

Mais independente fui ficando
Escola, vôlei e cursos ocupavam meus dias
Grandes grupos de amigos fiz
E fiz de nossa casa uma verdadeira “casa da mãe Joana”
Mas com paciência e simpatia você recebia a todos, sem reclamar

Finalmente cheguei. Estou no divisor de águas
De um lado uma criança bricalhona e super ativa
Do outro um rapaz com responsabilidades e obrigações
No ingresso a vida adulta o medo me alcançou
Mas escutando meu silencioso grito de socorro você me guiou

Hoje nós invertemos nossos papeis
Enquanto trabalho, estudo e me divirto com os amigos
Você me espera em casa para uma boa conversa e um bom carinho
Só que apesar de querer aproveitar esse breve momento contigo
“Sem tempo e com milhares de coisas para fazer estou” diz minha vã consciência

Daqui a pouco formarei minha própria família
Chorarei com um sorriso banguela, limparei sujeiras,
Lerei histórias, jogarei jogos, aconselharei sempre que for preciso
E ainda guiado pela sua sabedoria, força, paciência e carinho
Passarei para as futuras gerações todo o legado que você me passou

Te amo!

segunda-feira, 6 de maio de 2013

EXEMPLO DE ETIQUETA NO ONIBUS



Acho engraçado esse pessoal do ônibus, a ideia de preferência e de solidariedade deles é bem distorcia para favorecer a sua situação. Todos aqui sabem que a preferência dos assentos é dos idosos, gestantes, deficientes físicos e pessoas com grandes e pesadas sacolas (esse ultimo por questão de consciência e bom senso), entretanto o povo brasileiro sempre arranja um argumento para a sua defesa, como falar que existem assentos preferências para esse grupo seleto de pessoas e se já estão ocupadas, eles não podem fazer nada.
Olha aquela situação, uma mulher, beirando seus 45 anos, com sacolas de supermercado suficientes para alimentar dois filhos mais o marido por duas semanas, em pé, com 6 sacolas numa mão e duas na outra que também segura a barra de ferro para tentar mantê-la em equilíbrio, ao lado dessa pobre pessoa esta uma estudante, com aproximadamente 15 anos, sentada, apenas com uma mochila no colo e conversando com sua colega. O que custaria a menina dar o seu lugar para a senhora que esta carregando muito peso? Aposto que ao sentar a senhora iria se oferecer para carregar a mochila da estudante como agradecimento. Só não dou o meu lugar porque também estou com muita carga, minha mochila esta com pelo menos 3 livros grossos, um caderno, notebook, agenda, roupa... sem contar que tenho que terminar de ler esse livro até depois de amanhã e o único tempo que tenho para lê-lo é no ônibus.
Ou então aquilo, uma senhora de uns 70 anos tentando se sustentar em pé no sacolejar do ônibus porque todos que estão ao lado dela estão dormindo ou falando no celular olhando para paisagem da janela como se ainda não tivesse visto a senhora ao seu lado. Tenho certeza que não tinha ninguém dormindo antes dela entrar. Esse jeitinho brasileiro me irrita. Se ela não tivesse tão longe e o ônibus tão lotado ia chamá-la para sentar no meu lugar, mas nesse amontoado de gente a frágil senhora deve fazer um esforço muito grande para chegar até aqui, melhor que ela fique por lá mesmo. A qualquer instante alguém pede parada e ela vai poder sentar.
E aquela mulher. Qual o problema dela colocar seu filho que deve ter uns 7 / 8 anos no seu colo para poder vagar mais um assento? Garanto que não iria atrapalhar o jogo que o menino está jogando no celular. Como tem gente sem noção no mundo. Se minha prima fosse um pouco mais nova eu colocá-la-ia no meu colo e daria o lugar para uma dessas pessoas cansadas voltando para casa depois de uma rotina dura de trabalho, mas hoje em dia uma criança de 11 anos não é mais criança né?!
Olha! Parece que vai entrar um cadeirante. Agora eu quero ver como esse povo vai se comportar, fingir que estão dormindo é que não vão, eles são curiosos demais para isso, mas duvido alguém se levantar para ajudar o rapaz a subir no ônibus. Aquele rapaz por exemplo, provavelmente ele vai ficar olhando todo o processo sem ajudar porque deve ser a primeira vez que ele vê essa situação e quer saber como funciona o elevador feito especialmente para os cadeirantes entrarem nos ônibus. As mulheres vão ficar olhando para o deficiente físico e para os homens que estão dentro do ônibus com olhar de suplica, para ver se alguém se compadece e ajuda o pobre rapaz, entretanto não vão falar nem fazer nada. E o motorista e o cobrador? Nem se mexem, acho que para eles parar para os cadeirantes já é mais do que um favor que eles fazem. Sério mesmo que ninguém vai se mexer para ajudar? Vão ficar só olhando a batalha do homem para encaixar a cadeira no elevador? Tudo bem que eu já esperava, mas sempre acho que vai aparecer um salvador. Ah, ufa! O salvador apareceu. Mas fala sério, se depender dessa sociedade estamos ferrados. Deveria existir mais gente como eu que se preocupa com o próximo. Agora posso voltar a ler meu livro em paz.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Poemas



IMPOSSÍVEL QUERER

Eu quero o que penso
O que sinto, o que cheiro
Mas num campo ensolarado de relva verde
Não sinto o cheiro da chuva
Num lago límpido da Antártida
Não sinto o morno e doce toque da pele
E com a falta da nostalgia infantil
Não penso em nada mais que um fim tétrico
Como é querer ter o medo ao seu lado
Para poder sentir nada mais que vento úmido
Um sopro gélido de esperança
Para dizimar a dicotomia da conquista
Conquistando todo cheiro, o sentido e o pensamento
Assim num campo ensolarado
Sentirei o morno e doce toque
Numa infantil lembrança
Lembrarei da leve fragrância da chuva
E num límpido lago
Cristalizarei todo mal que viria a ser
Ou tudo isso não passa de uma turva visão de branco
Donde todo cinza vira paisagem
E toda paisagem é cinza

terça-feira, 30 de abril de 2013

CDZ x CDZ Ômega (parte II)




Pois é, estou eu aqui de novo para falar sobre os Cavaleiros do Zodíaco Ômega e mais uma vez para falar sobre as coisas que me incomodam nesse anime. Tá...tá , sei que poderia escrever sobre outros animes, talvez falar do melhor anime que já assisti ou acabar com o pior anime que já vi (ou simplesmente falar de outra coisa mais relevante do que animação japonês), entretanto tem alguma coisa em CDZ Ômega que me incomoda bastante, à ponto de sentir a necessidade de escrever sobre ele.
Primeiramente gostaria de dizer que fiquei feliz em saber que não fui o único a achar bizarro toda essa nova roupagem que estão tentando implantar nos Cavaleiros do Zodíaco, li e ouvi muitos comentários contra essa saga, alguns reafirmavam o que eu já havia dito e outros acrescentavam outras críticas. Assim como também ouvi pessoas defendendo a saga de Ômega e chamando de mente fechada e tradicionalistas as pessoas que criticavam o novo anime, chegando até a fazer comentários mais pessoais do que relacionados ao tema em questão, para essas pessoas só quero dizer o seguinte: Sim, eu sou tradicionalista em alguns aspectos. Não sou contra as mudanças e a evolução, muito pelo contrário, sempre apoiei o novo, entretanto temos que aprender a respeitar o clássico. Quando você pega (no caso) um desenho que se tornou um clássico para dar um ar moderno a ele, tem-se que ter respeito com as suas regras, leis e história e ter um cuidado ainda maior com as mudanças. Costumo relacionar a mudança de Cavaleiros do Zodíaco com a mudança que Stephenie Meyer fez com os vampiros, foi uma mudança tão brusca que poderia falar que o vampiro da saga Crepúsculo é uma nova geração de criaturas com uma linhagem de semelhança com os vampiros (que em minha opinião tornaria o livro bem mais aceitável, apesar dessa não ser a única falha na obra). O mesmo poderia ser feito com Ômega, poderia dar ao anime outro nome e dizer que tem alguma referencia com a saga original de CDZ, assim como o próprio Kurumada fez, o B’tX é um mangá com uma história totalmente diferente de Cavaleiros, mas tem obvias referencias de CDZ nele (além dos traços).
Enfim, sem me prolongar mais do que já o fiz, voltei a escrever sobre o Ômega para falar sobre os novos murmurinhos que tenho escutado sobre o anime. Depois de muitos fãs da saga clássica terem reclamado dessas mudanças exacerbadas que fizeram, os produtores do novo anime resolveram modificar algumas coisas e voltar ao que estava funcionando muito bem na saga original, como por exemplo, os traços das armaduras, para mim é uma mudança insignificante, pois isso é o tipo de mudança que não influencia na essência, podemos ver na saga G dos CDZ que os traços são muito diferentes do original e mesmo assim o mangá é espetacular.
Mas a mudança que esta sendo mais comemorada é a volta das urnas das armaduras. Assim como eu disse no primeiro texto (segue link para quem ainda não leu: http://www.bululante.blogspot.com.br/2013/02/cdz-x-cdz-omega.html), a história das gemas “mágicas” era uma das mudanças que tinha me incomodado bastante, as gemas que os cavaleiros usavam para invocar as armaduras tornavam as coisas muito místicas, de onde vinham as armaduras? Do espaço? De dentro da gema? Ela é feita de energia ou é algo material? Ou é como uma onda eletromagnética que tem duas naturezas? Sem contar que tiraram uma dificuldade que existia no desenho clássico, pois não era qualquer um que conseguia carregar uma armadura, poderia ser o homem mais forte do mundo, mas se não soubesse liberar o cosmo a urna, assim como a armadura, iriam pesar como chumbo. Outra coisa que também privaram é ver a armadura se desmontando e sendo vestida no cavaleiro. Enfim, resolveram concertar isso e fizeram com que as novas armaduras (com traços mais angulados como era as de Kurumada) fiquem dentro das urnas e nossos jovens aventureiros estão carregando essa enorme caixa para cima e para baixo.
Ta tudo muito bom, ta tudo muito bem, mas os produtores não poderiam apenas mudar isso do nada e achar que o publico iria aceitar, então o que eles fizeram? Criaram uma história para explicar essa mudança e foi ai que eles erraram feio (erraram muito feio, erraram rude), mas vamos por partes. Na 1ª temporada do anime tem um episódio que aparece Kiki, Cavaleiro de Ouro da casa de Áries (uma das coisas boas do anime é ver a evolução dos personagens da saga clássica) consertando as armaduras dos cavaleiros de bronze antes deles enfrentarem os outros cavaleiros de ouro, pois então, como Kiki concertou as armaduras? Com pó de estrelas, seu cosmo e... e... só. Só isso! Cadê o sangue de cavaleiro? Quem não se lembra do Shiryu quase morrendo para dar seu sangue para Mu de Áries poder reconstituir a armadura dele e de Seiya? Ou da saga de Poseidon quando todas as armaduras dos cavaleiros de bronze estavam destroçadas pela batalha do santuário e todos os cavaleiros de ouro que sobreviveram deram seu sangue para restaurar as armaduras, o que demonstrou uma homenagem dos cavaleiros de ouro para com os de bronze e o reconhecimento deles como os futuros protetores da paz na Terra e da deusa Atena (sem contar que as armaduras deles ficaram mais fortes já que foram reconstruídas com sangue de cavaleiro e ouro, ajudando assim na vitória deles contra os marinas, cavaleiros de Poseidon). Ou até da saga de Hades quando Shion pinga um pouco de sangue da deusa Atena nas armaduras dos cavaleiros de bronze para reconstituí-las e que por isso eles conseguem usar todo o seu cosmo no castelo de Hades e no final da saga eles conseguem desenvolver as armaduras divinas. Ou seja, o sangue é o toque especial e essencial da reconstrução de uma armadura.
Não obstante eu deixei passar, tanto que nem foi um dos meus comentários no 1º texto que fiz sobre o assunto, só que dessa vez eles passaram dos limites. A história que inventaram para justificar a mudança do traço da armadura e o fim das gemas para as urnas foi que: uma armadura possui seu próprio cosmo (até ai beleza) e que aos poucos ela se regenera sozinha (humm... ficando estranho, mas aceitável), mas o segredo real da reestruturação da armadura é o cosmo do seu protetor, ou seja, qualquer cavaleiro que elevar muito o seu cosmo (queria saber até qual sentido, porque já vi cavaleiros atingindo o 8º sentido para elevar seu cosmo ao máximo para poder ir ao inferno sem morrer) pode reconstruir sua armadura sozinho.
Eu custo a acreditar que o segredo de consertar uma armadura passada de geração a geração para os cavaleiros de ouro da casa de Áries seja esse (na verdade acho que é passado para os cavaleiros da cidade de Jamil, não necessariamente um protetor da casa de Áries), custo mais ainda acreditar que Mu de Áries (mestre de Kiki) fazia com que os outros cavaleiros sangrassem até a quase morte só por diversão. Também quero descobrir até onde um cavaleiro tem que elevar o seu cosmo para que essa regeneração ocorra, já que teoricamente na saga clássica a elevação máxima do cosmo é no 8º sentido que você só atinge quando está à um passo da morte.
Está aí a comprovação do que uma pequena mudança sem respeitar a história do 1º criador pode ocasionar, ele torna a saga que já passou sem sentido nenhum, se sangue não serve para nada no conserto de uma armadura, por que Shiryu quase morreu? Por que os cavaleiros de ouro deram seu sangue? Por que só o sangue de Atenas restaurou as armaduras? Por que só os cavaleiros de ouro de Áries conseguem consertar as armaduras? Por quê? Por quê?
Para mim, antes tinham duas possibilidades deles concertarem esse anime:
1ª – Mudar algumas coisas para ficar mais próxima da original;
2ª – Tirar o nome “Cavaleiros do Zodíaco” do titulo e continuar como se fosse outro anime.
Entretanto essa primeira possibilidade já não é uma opção para mim. Se mudando uma coisa simples como as gemas para as urnas eles fizeram essa cagada toda (sim, eu preferiria que continuasse com as gemas a ver essa invenção absurda), imagine se fossem tirar as habilidades deles de controlarem elementos (isso me irrita profundamente), talvez eles matem todos os deuses gregos e criem um deus único, o Deus cristão, para justificar a mudança.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Resenha - Meu pé de laranja lima



José Mauro de Vasconcelos
Meu pé de laranja lima
Editora: Melhoramento
Rio de Janeiro, 2010 - 189 páginas
Idioma original: Português

Ontem fui ver o filme baseado no livro “Meu Pé de Laranja Lima” e me fez lembrar a história do livro, do quanto chorei, ri, fiquei com raiva... do quanto me envolvi ao lê-lo e resolvi fazer a resenha do livro mais tocante que já li.
Quem nunca sonhou em ter uma infância feliz, divertida, alegre, brincalhona, cheio de amigos, podendo correr para onde quiser, tomar banho de piscina, mar, rio, soltar pipa, contar histórias, jogar com os amigos da escola, ganhar presentes de natal e mostrar para os amigos, comer sorvete, doces e bolos a vontade, enfim, viver sua infância na plenitude do que a vida oferece. Zezé é um garoto que apesar das adversidades conseguiu extrair sempre algo de bom da vida.
A obra é semi-autobiográfica, conta a história de Zezé, um menino que nasceu numa família com grandes dificuldades financeira, cujo pai não consegue emprego e a mãe era ausente do ambiente familiar, pois tinha que trabalhar para sustentar uma família de 5 crianças mais o marido. Entretanto Zezé era uma criança muito criativa, ativa, inteligente e alegre, mas seu temperamento brincalhão o colocava em más situações, sendo considerado um diabinho pela família e sempre apanhando como castigo das traquinagens.
No meio dessa vida sofrida e cheia de privações, Zezé fez grandes amigos pelo caminho, pessoas que realmente gostavam dele e o ajudava a superar todos os maus que estava passando, como por exemplo, seu pé de laranja lima, apelidado de Minguinho que sempre estava pronto para escutar e conversar com seu dono e levá-lo as maiores aventuras cavalgando em seu cavalo branco. Assim também como a sua professora que viu em Zezé uma criança muito inteligente, gentil e justa.
Mas seu maior companheiro foi o Portuga, ou como poucos o chamam, Sr. Manuel Valadares. Zezé que no começo o considerava como seu maior inimigo, viu no velho Portuga, que tem o melhor carro do mundo, um grande amigo. Depois do começo dessa amizade Zezé passou a suportar todas as punições que lhe passavam com mais facilidade e também a se comportar mais para que pudesse se encontrar com seu melhor amigo sempre que quisesse.
Neste livro eu morri de rir com os comentários sinceros e diretos de Zezé, fiquei com raiva da família dele pelo modo como tratavam essa pobre criança e chorei de soluçar com as perdas e sofrimentos que esse menino passou. Para quem quer se emocionar com uma boa leitura recomendo o livro “Meu pé de laranja lima”, você não vai se arrepender.

terça-feira, 23 de abril de 2013

PARADA DE ÔNIBUS - A CONSULTA (parte I)



- Bom dia. – saúda a senhora.
- Bom dia - responde o rapaz se acomodando no banco da parada de ônibus.
Todos os dias, as 6:00AM, o jovem de 22 anos vai para a parada de ônibus do Itamarati para esperar o transporte da empresa onde trabalha, e todos os dias ele encontra essa senhora cheia de classe esperando o 4 (ônibus alternativo para Parnamirim) que sempre o saúda com um simpático “bom dia” e normalmente a conversa para por ai. Entretanto parece que existe uma lei não regulamentada que diz: “se durante pelo menos uma semana você encontrar todos os dias com uma mesma pessoa e o tratar com educação e respeito, por lei vocês são considerados amigos íntimos, tendo assim como benefício:
§ 1º - Perguntar sobre a família dele e falar sobre a sua;
§ 2º - Pedir favores em relação a profissão dele;
§ 3º - Falar sobre seus problemas e exigir conselhos.”
Como essa lei é de conhecimento popular, a cara senhora, com 3 semanas de convivência diária, sentiu-se a vontade de exigir seus direitos.
- Finalmente sexta-feira né? – disse a senhora tentando puxar um assunto.
- Com certeza. Semana pesada. – respondeu o jovem ainda com sono.
- Nem me fale. – disse se virando para o rapaz já se animando para continuar a conversa – Já comecei a semana com o clima meio pesado do final de semana.
- Hum. – respondeu por educação, pois na verdade ele ainda estava com muito sono.
- Nossa você sabe o que me aconteceu no final de semana passado? – esperou por uma resposta que não veio, mas isso não a intimidou – É que eu saí com uns amigos no sábado a noite e dentre eles tinha um amigo que tem problemas com bebida.
- Hum. – disse o jovem se virando para ela, percebendo que ela ia continuar a conversar de um jeito ou de outro.
- Então... faz um tempo que estou tentando ajudá-lo a parar de beber. Ele não quer ir para as reuniões do AA, por que não se considera alcoólatra...
- Nenhum deles considera.
- Pois é, por isso que quando ele sai a noite no final de semana, eu tento ir junto para tentar controlá-lo de alguma forma...
- Mas não adianta né?!
- Quando estou com ele normalmente ele não bebe, tirando o final de semana passado.
- Isso mostra que ele deve beber quando você não esta por perto.
- Então o que devo fazer? Não posso ficar no pé dele o tempo todo.
- E nem deve.
- Ele é um amigo tão querido. Não queria que ele se perdesse. – silêncio – Então, o que eu posso fazer.
- Não sei. O ideal é ele se conscientizar do problema.
- Pois é, mas como vou fazer isso?
- Não sei.
- Talvez se eu mostrar o mal que isso faz a sua saúde...
- Talvez.
- Ou então mostrar os perigos que ele passa ao beber.
- É.
- Mas eu já fiz isso tudo e de nada adiantou. Teria que abordá-lo de uma maneira diferente. Uma forma que o atinja diretamente. Uma coisa mais concreta do que as possibilidades de doenças e acidentes.
- Uhum.
Os dois permanecem um tempo calados, ela olhando para o céu com uma expressão pensativa, ele fica olhando para o nada com a cara inchada de sono. Até que num salto a senhora exclama:
- Já sei. – diz animada olhando para o seu confidente e ele “acordando” no susto. – Veja se vai dar certo.
- Humm. – resmunga ainda se recuperando do susto.
- É o seguinte, ao invés de falar aquilo que todos falam para alguém que é dependente químico, vou pegar as coisas que acontecem na vida dele e mostrar que aquilo com o que ele não esta satisfeito na vida poderia ser solucionado se ele parasse de beber ou pelo menos diminuísse a quantidade.  – concluiu olhando para seu novo amigo com uma expressão alegre. – e ai, o que acha?
- Bom. Não custa nada tentar.
- Ufa, ainda bem que pensamos em alguma saída, já estava ficando muito preocupada. – disse olhando para a rua para ver se seu ônibus estava chegando. – Eita, olha ai o 4. Demorou hoje né?! Mas foi bom, deu para a gente conversar bastante. – pegou sua bolsa, se levantou e esticou sua mão para o rapaz. – Muito obrigado pela ajuda e os conselho. Você é bem maduro para alguém da sua idade. Bom trabalho.
- De nada. Bom trabalho para você também.
Ele ficou lá pensando no que tinham conversado, tentando relembrar o que tinha respondido, tentando entender o que tinha acontecido e tentando lembra pelo menos qual era o nome dela.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Resenha - Auto da Compadecida



Ariano Suassuna
Auto da Compadecida
Saraiva de Bolso (edição especial)
Rio de Janeiro, 2012 - 157 páginas
Idioma original: Português

O Auto da Compadecida é uma história conhecida e adorada por todos os brasileiros. Uma peça teatral que foi adaptada para a televisão, cinema e livro, que conquistou a todos com seu alto teor de humor, regionalismo e com leves toques de crítica velada nos risos. Esta obra esta mais do que consagrada na cultura popular brasileira.
A obra passa-se em três atos: no primeiro ato é contada a história do enterro do cachorro; o segundo é sobre o gato que “descome” dinheiro e da gaita magia; e o terceiro ato mostra o julgamento divino dos mortos pecadores. Esta história é uma compilação de quatro contos populares de literatura de cordel. O livro tem a estrutura de um texto de peça teatral, no qual Suassuna transformou os contos de 3ª pessoa de estrutura narrativa dos cordéis em texto de prosa na 1ª pessoa.
O humor da obra é indiscutível, o padeiro chifrudo, o padre oportunista, o bispo ganacioso, a mulher fogosa do padreiro chorando a morte do cachorro, o frouxo e contador de histórias do Chico, até Manoel e Nossa Senhora tem seu ar cômico na história, mas o destaque com certeza fica com João Grilo e seus tramites para se dar bem.
João Grilo é um homem pobre, com pouca escolaridade, trabalhador que sonha em se dar bem na vida e para isso ele usa de sua inteligência e raciocino rápido para aproveitar todas as oportunidades que a vida lhe dá, entretanto cada história que ele inventa sempre acaba dando confusão e para contorná-la João Grilo acaba entrando numa confusão maior ainda e assim vai até que ele se sinta satisfeito e se dê bem. Esse personagem é trapalhão, trapaceiro e vive metendo ele e seu amigo Chicó em confusão, mas seu carisma e sua comicidade fazem com que sempre torçamos para que ele se dê bem no final.
Os diálogos são muito inteligentes, cheios de gírias regionais do interior do nordeste e, claro, cheio de ironia, mostrando o lado corrupto, individualista e ganancioso do ser humanos de uma forma bem engraçada, mas também mostra o lado puro do coração do homem, como o companheirismo, amizade, amor e fidelidade que em situações extremas sempre prevalecem.
O artifício de Suassuna de fazer com que um palhaço conte a história como se a platéia estivesse no circo e a peça acontecendo no picadeiro, torna o livro ainda mais encantador e lírico. Não é a toa que este livro se tornou um clássico e uma obra referencia da cultura brasileira, só o que posso fazer é me juntar a milhares de leitores que já tiveram o prazer de ler esta obra e em uníssono dizer com eles: “Recomendo. Leiam. Vocês vão rachar de rir. Não irão se arrepender.”

segunda-feira, 15 de abril de 2013

FORÇA DO PENSAMENTO



Meia hora de espera depois lá vem ele. Estico o meu braço, eu e mais uma dúzia e meia de pessoas. Torço para ele parar na minha frente, mas por azar ele passa 1 metro de onde estava, mais do que o suficiente para me obrigar a entrar numa fila disforme para embarcar. Em passos lentos até a porta, no meio do empurra-empurra dou uma espichada para o lado de dentro, calculo aproximadamente quantas cadeiras vagas tem no seu interior para saber se sobrará uma para mim quando subir. Enfim a minha vez, passo o cartão na máquina e giro a roleta, observo o corredor e vejo dois assentos desocupado na ultima fileira, fui até lá e sentei. Finalmente sentado, finalmente relaxado. Agora é só curtir a viagem, talvez tirar um cochilo e esperar chegar na minha parada. Entretanto quando estava ali sentado pensando na vida, com fone de ouvido curtindo Audioslave, entra uma das mulheres mais bonitas que tinha visto na minha vida. O sono passou, o cansaço passou, a música acabou, toda a cena ficou cinza tirando a mulher que era a único ser colorido e iluminado a minha frente. Fiquei a observar seus movimentos que pareciam estar em câmera lenta, todo o gesto era fascinante, o sorriso, a piscada de olho, a mão entregando o dinheiro, o quadril ajudando a girar a catraca, o caminhar... ah o caminhar, mesmo estando num ônibus lotado, ela, naquele corredor apertado, parecia que estava desfilando numa passarela com o vestido a esvoaçar com os imaginários ventiladores estrategicamente posicionados e a luz a te acompanhar. Depois de tamanha admiração pensei: “bem que esse gordo poderia se levantar para ela sentar ao meu lado. Se isso me acontecesse não perderia essa chance.”. E como se o homem que estava ao meu lado tivesse escutado meus pensamentos, ele se levantou, pediu parada e se encaminhou para a porta de saída. E como um desejo realizado por um gênio da lâmpada mágica, ela sentou ao meu lado. Entrei em pânico! Ou talvez choque. Quem sabe os dois. Não consegui acreditar na coincidência. Mas e agora? Como poderia abordar uma pessoa totalmente estranha dentro de um ônibus? Que conversa poderia puxar que não parecesse estranha? Desisti, não tinha como ter alguma chance com uma mulher como aquela, mas pensei: “mas seria demais se ela falasse comigo.”
- Sabe me dizer se esse ônibus é Maria Lacerda ou Abel Cabral?
Não, isso não pode estar acontecendo. É coincidência demais. Tive meu segundo desejo realizado. Realmente tem algum gênio a meu favor, talvez não fosse da lâmpada, mas devo ter esfregado alguma garrafa para merecer isso. Abri a minha boca para responder e tentar puxar uma conversa, mas só saiu:
- Maria.
- Ai que bom. Obrigada!
Um sorriso foi o máximo que consegui esboçar como resposta. Não podia acreditar que o destino estava me dando todas as oportunidades e eu não as estava aproveitando, como eu detesto essa timidez que me ocorre nos momentos menos propícios. Para tantas coisas eu tenho uma cara de pau sem tamanho e para outras sou simplesmente um banana. Enfim, fiquei lá me rebaixando a mais baixa das criaturas covardes, até que me veio uma idéia. Apesar de ser um absurdo, não custava nada tentar, afinal nas ultimas duas vezes funcionou. Vamos lá, é o meu terceiro e último desejo. Concentrei todas as minhas forças nesse pensamente e fiz o desejo: “bem que ela poderia me beijar sem razão aparente, simplesmente porque deu vontade”. Ela se moveu. Será que iria realmente acontecer? Será que realmente tinha ganhado um gênio que estava realizando os meus desejos? Por alguns segundos eu realmente estava acreditando nessa possibilidade absurda, mas no segundo seguinte cai na real. Ela apenas se levantou, pediu parada e desceu do ônibus. É... realmente não podemos deixar tudo na mão do destino, uma hora ele se cansa.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Resenha - Conto de inverno



William Shakespeare
Conto de Inverno
Editora UFRJ
Rio de Janeiro, 2005 - 297 páginas
Idioma original: Inglês
Tradutor: Aíla de Oliveira Gomes

Primeiro livro de Shakespeare que leio até o final e devo dizer que estava com receio de não entender nada com a linguagem rebuscada da época, entretanto confesso que foi bem fácil de ler, me surpreendi com a fluidez da leitura e acabei despertando a curiosidade de ler outras obras deste autor tão renomado.
A história é contada na estrutura de uma peça de teatro, o que também foi uma novidade para mim, achei bem interessante imaginar as cenas sendo apresentadas no palco. Apesar de ter apenas diálogos, são inseridos elementos teatrais para compor a história, como exemplo, a indicação quando os personagens entram e saem do cenário, a explicação de qual cenário que acontece numa determinada cena ou até a indicação para quem a fala esta sendo direcionada.
A peça conta a história de dois reis muito amigos, o rei da Sicilia e o rei da Boemia, entretanto durante uma visita do rei da Boemia ao da Sicilia, este segundo levado pelo ciúme acusou o amigo e a esposa de traição, a partir daí acontecem várias desventuras que levam a história à um final surpreendente (e até fantasioso na minha opinião).
A peça é bem desenvolvida, contando a história de maneira direta, em todas as cenas ocorre um acontecimento que leva a outra cena, sem enrolação, a não ser talvez na cena onde o rei da Boemia descobre sobre o amor secreto do filho, aquela cena para mim não teve muito sentido, não era uma cena engraçada, nem serviu para dar expectativa, muito menos suspense, simplesmente desnecessário.
Além desta cena que citei outra parte da história que não me agradou muito foi o final da peça. Não contarei o final, mas posso dizer que o achei muito fantasioso e forçado, sinto que faltou coragem para fazer um final menos “viveram felizes para sempre”m principalmente depois de acontecer tanta desgraça durante a história é estranho que o final seja bom para todos. Talvez para peça tenha um impacto mais forte, algo mais significativo, atrativo, mas particularmente não gostei.
Apesar desses adventos, eu gostei muito da leitura, tanto que fiquei com vontade de ler outros livros de Shakespeare (sem ter o medo de ser rebuscado demais). Recomendo essa leitura, é bastante interessante ler um livro na estrutura de uma peça, nos dá uma visão geral do espetáculo, imaginando como seriam os cenários, os figurinos, as luzes, os efeitos... chegando até a estimular a ideia de executar a peça com os amigos.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Poemas



AMORDOTÔ

E no canto em que me encontro
Limito o meu encanto
Que demonstro no meu canto

Canto para você tanto
Amor que não conto
Nem o falar do conto
Nem o contar do conto

Vejo assim, portanto
Que mesmo tentando tanto
Encantar o seu encanto

Permaneço nesse canto
Sozinho, triste e tonto
Apaixonado neste ponto
Lamentando pelo meu torto engano.


* Esse fiz no improviso para uma amiga que estava chorando seus desprazeres amorosos.