Lembro-me com nítida perfeição
Que a minha reta nunca foi reta
Tinha pequenas imperfeições
Algumas ondulações
Algumas bifurcações
Até cabelo algumas tinham
Lembro-me do sentimento de frustração
Das linhas tortas no papel
Da repetição insistente
E da falsa ideia de melhora
Dos ângulos se tornando curvas
E das curvas se tornando retas
Lembro-me da satisfação
Depois de tamanho esforço
Depois de tamanha dedicação
Depois de tanto tempo
Finalmente alcancei o objetivo
Minha reta esta finalmente reta
Lembro-me há um tempo atrás
Logo depois da conquista
O orgulho embevecido
A obrigação de refazer a mesma reta
Andar sempre com papel e lápis no bolso
E mostrar para todos o meu sucesso
Lembro-me também da monotonia
Da repetição, da mesmice
Fácil ficou rabiscá-la no papel
Nunca mais curvas, cabelos ou bifurcações
Sim, minha reta era uma reta
E uma reta seria eternamente
Lembro-me de ontem
Das saudades que sinto das curvas
E porque não dizer dos cabelos e bifurcações
A reta é a perfeição que conquistei
Mas uma reta que é sempre reta
Tira todo o sentido da perfeição
Peguei o papel, o lápis e rabisquei
Uma, duas, três...infinitas vezes
Só perfeitas reta desenhei
Então chorei, pois soube neste momento
Que minhas retas nunca mais seriam tortas
E a minha torta vida seria sempre reta
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