terça-feira, 23 de abril de 2013

PARADA DE ÔNIBUS - A CONSULTA (parte I)



- Bom dia. – saúda a senhora.
- Bom dia - responde o rapaz se acomodando no banco da parada de ônibus.
Todos os dias, as 6:00AM, o jovem de 22 anos vai para a parada de ônibus do Itamarati para esperar o transporte da empresa onde trabalha, e todos os dias ele encontra essa senhora cheia de classe esperando o 4 (ônibus alternativo para Parnamirim) que sempre o saúda com um simpático “bom dia” e normalmente a conversa para por ai. Entretanto parece que existe uma lei não regulamentada que diz: “se durante pelo menos uma semana você encontrar todos os dias com uma mesma pessoa e o tratar com educação e respeito, por lei vocês são considerados amigos íntimos, tendo assim como benefício:
§ 1º - Perguntar sobre a família dele e falar sobre a sua;
§ 2º - Pedir favores em relação a profissão dele;
§ 3º - Falar sobre seus problemas e exigir conselhos.”
Como essa lei é de conhecimento popular, a cara senhora, com 3 semanas de convivência diária, sentiu-se a vontade de exigir seus direitos.
- Finalmente sexta-feira né? – disse a senhora tentando puxar um assunto.
- Com certeza. Semana pesada. – respondeu o jovem ainda com sono.
- Nem me fale. – disse se virando para o rapaz já se animando para continuar a conversa – Já comecei a semana com o clima meio pesado do final de semana.
- Hum. – respondeu por educação, pois na verdade ele ainda estava com muito sono.
- Nossa você sabe o que me aconteceu no final de semana passado? – esperou por uma resposta que não veio, mas isso não a intimidou – É que eu saí com uns amigos no sábado a noite e dentre eles tinha um amigo que tem problemas com bebida.
- Hum. – disse o jovem se virando para ela, percebendo que ela ia continuar a conversar de um jeito ou de outro.
- Então... faz um tempo que estou tentando ajudá-lo a parar de beber. Ele não quer ir para as reuniões do AA, por que não se considera alcoólatra...
- Nenhum deles considera.
- Pois é, por isso que quando ele sai a noite no final de semana, eu tento ir junto para tentar controlá-lo de alguma forma...
- Mas não adianta né?!
- Quando estou com ele normalmente ele não bebe, tirando o final de semana passado.
- Isso mostra que ele deve beber quando você não esta por perto.
- Então o que devo fazer? Não posso ficar no pé dele o tempo todo.
- E nem deve.
- Ele é um amigo tão querido. Não queria que ele se perdesse. – silêncio – Então, o que eu posso fazer.
- Não sei. O ideal é ele se conscientizar do problema.
- Pois é, mas como vou fazer isso?
- Não sei.
- Talvez se eu mostrar o mal que isso faz a sua saúde...
- Talvez.
- Ou então mostrar os perigos que ele passa ao beber.
- É.
- Mas eu já fiz isso tudo e de nada adiantou. Teria que abordá-lo de uma maneira diferente. Uma forma que o atinja diretamente. Uma coisa mais concreta do que as possibilidades de doenças e acidentes.
- Uhum.
Os dois permanecem um tempo calados, ela olhando para o céu com uma expressão pensativa, ele fica olhando para o nada com a cara inchada de sono. Até que num salto a senhora exclama:
- Já sei. – diz animada olhando para o seu confidente e ele “acordando” no susto. – Veja se vai dar certo.
- Humm. – resmunga ainda se recuperando do susto.
- É o seguinte, ao invés de falar aquilo que todos falam para alguém que é dependente químico, vou pegar as coisas que acontecem na vida dele e mostrar que aquilo com o que ele não esta satisfeito na vida poderia ser solucionado se ele parasse de beber ou pelo menos diminuísse a quantidade.  – concluiu olhando para seu novo amigo com uma expressão alegre. – e ai, o que acha?
- Bom. Não custa nada tentar.
- Ufa, ainda bem que pensamos em alguma saída, já estava ficando muito preocupada. – disse olhando para a rua para ver se seu ônibus estava chegando. – Eita, olha ai o 4. Demorou hoje né?! Mas foi bom, deu para a gente conversar bastante. – pegou sua bolsa, se levantou e esticou sua mão para o rapaz. – Muito obrigado pela ajuda e os conselho. Você é bem maduro para alguém da sua idade. Bom trabalho.
- De nada. Bom trabalho para você também.
Ele ficou lá pensando no que tinham conversado, tentando relembrar o que tinha respondido, tentando entender o que tinha acontecido e tentando lembra pelo menos qual era o nome dela.

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