- Bom dia. – saúda a senhora.
- Bom dia - responde o rapaz se acomodando no banco da
parada de ônibus.
Todos os dias, as 6:00AM, o jovem de 22 anos vai para a
parada de ônibus do Itamarati para esperar o transporte da empresa onde
trabalha, e todos os dias ele encontra essa senhora cheia de classe esperando o
4 (ônibus alternativo para Parnamirim) que sempre o saúda com um simpático “bom
dia” e normalmente a conversa para por ai. Entretanto parece que existe uma lei
não regulamentada que diz: “se durante pelo menos uma semana você encontrar
todos os dias com uma mesma pessoa e o tratar com educação e respeito, por lei
vocês são considerados amigos íntimos, tendo assim como benefício:
§
1º - Perguntar sobre a família dele e falar sobre a sua;
§
2º - Pedir favores em relação a profissão dele;
§
3º - Falar sobre seus problemas e exigir conselhos.”
Como essa lei é de conhecimento popular, a cara senhora, com
3 semanas de convivência diária, sentiu-se a vontade de exigir seus direitos.
- Finalmente sexta-feira né? – disse a senhora tentando
puxar um assunto.
- Com certeza. Semana pesada. – respondeu o jovem ainda com
sono.
- Nem me fale. – disse se virando para o rapaz já se
animando para continuar a conversa – Já comecei a semana com o clima meio
pesado do final de semana.
- Hum. – respondeu por educação, pois na verdade ele ainda
estava com muito sono.
- Nossa você sabe o que me aconteceu no final de semana
passado? – esperou por uma resposta que não veio, mas isso não a intimidou – É
que eu saí com uns amigos no sábado a noite e dentre eles tinha um amigo que
tem problemas com bebida.
- Hum. – disse o jovem se virando para ela, percebendo que
ela ia continuar a conversar de um jeito ou de outro.
- Então... faz um tempo que estou tentando ajudá-lo a parar
de beber. Ele não quer ir para as reuniões do AA, por que não se considera
alcoólatra...
- Nenhum deles considera.
- Pois é, por isso que quando ele sai a noite no final de
semana, eu tento ir junto para tentar controlá-lo de alguma forma...
- Mas não adianta né?!
- Quando estou com ele normalmente ele não bebe, tirando o
final de semana passado.
- Isso mostra que ele deve beber quando você não esta por
perto.
- Então o que devo fazer? Não posso ficar no pé dele o tempo
todo.
- E nem deve.
- Ele é um amigo tão querido. Não queria que ele se
perdesse. – silêncio – Então, o que eu posso fazer.
- Não sei. O ideal é ele se conscientizar do problema.
- Pois é, mas como vou fazer isso?
- Não sei.
- Talvez se eu mostrar o mal que isso faz a sua saúde...
- Talvez.
- Ou então mostrar os perigos que ele passa ao beber.
- É.
- Mas eu já fiz isso tudo e de nada adiantou. Teria que
abordá-lo de uma maneira diferente. Uma forma que o atinja diretamente. Uma
coisa mais concreta do que as possibilidades de doenças e acidentes.
- Uhum.
Os dois permanecem um tempo calados, ela olhando para o céu
com uma expressão pensativa, ele fica olhando para o nada com a cara inchada de
sono. Até que num salto a senhora exclama:
- Já sei. – diz animada olhando para o seu confidente e ele
“acordando” no susto. – Veja se vai dar certo.
- Humm. – resmunga ainda se recuperando do susto.
- É o seguinte, ao invés de falar aquilo que todos falam
para alguém que é dependente químico, vou pegar as coisas que acontecem na vida
dele e mostrar que aquilo com o que ele não esta satisfeito na vida poderia ser
solucionado se ele parasse de beber ou pelo menos diminuísse a quantidade. – concluiu olhando para seu novo amigo com
uma expressão alegre. – e ai, o que acha?
- Bom. Não custa nada tentar.
- Ufa, ainda bem que pensamos em alguma saída, já estava
ficando muito preocupada. – disse olhando para a rua para ver se seu ônibus
estava chegando. – Eita, olha ai o 4. Demorou hoje né?! Mas foi bom, deu para a
gente conversar bastante. – pegou sua bolsa, se levantou e esticou sua mão para
o rapaz. – Muito obrigado pela ajuda e os conselho. Você é bem maduro para
alguém da sua idade. Bom trabalho.
- De nada. Bom trabalho para você também.
Ele ficou lá pensando no que tinham conversado, tentando relembrar
o que tinha respondido, tentando entender o que tinha acontecido e tentando
lembra pelo menos qual era o nome dela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário