Mais um dia se acabando. Mais um por do sol que vejo sumindo
entre os prédios. Mais uma vez vejo as mesmas cenas em movimento através dessa
janela. É incrível como essa cidade é dinâmica, todos os dias eu faço as mesmas
coisas, trabalho, faculdade, curso de idioma, kung fu... todos os dias eu faço
o mesmo trajeto de ida, o mesmo trajeto de volta, teoricamente tudo deveria ser
igual, permanecer igual, mas se prestar bastante atenção você vê que todo dia é
diferente do próximo, nas pequenas coisas, como você ir na padaria onde você
toma aquele cafezinho toda manhã e perceber que o café esta diferente porque
mudaram o funcionário da padaria; ou ir na banca ao lado do seu trabalho para
jogar papo fora e ler um jornal no horário de almoço e descobrir que a banca de
Seu Ricardo fechou; ou até os dias que você percebe a mudança de humor do seu
chefe o que pode acarretar num dia de trabalho mais estressante ou mais
tranqüilo. São essas pequenas mudanças que não deixa as nossas vidas moldada
pela sociedade capitalista que vive numa busca insana por consumo e
consequentemente por produção, o que faz com que vivamos numa rotina incessante
de trabalho e estudo muitas vezes deixando de lado nosso tempo de prazer, fique
suportável, ou até divertida. Sim, divertida. Por que não? Eu por exemplo,
estou no mesmo ônibus lotado que pego todos os dias, por sorte, hoje sentado,
olhando para janela, vendo a cidade em movimento e pensando na vida, quando o
ônibus para por causa do trânsito e levantando meu olhar vejo um cartaz do colégio
Contemporâneo. Passo por esse colégio todos os dias no mesmo ônibus, mas só
hoje reparo nesse cartaz e de alguma forma ele me chamou muita atenção, fiquei
um tempo analisando-o. O cartaz era bem simples, o fundo era amarelo e azul,
bem grande vinha o nome do colégio em letras garrafais, antes do nome tinha uma
imagem de um menino, devia ter uns 6/7 anos, com as mãos em concha segurando
uma muda com um punhado de terra, mas o que me roubou a atenção foi o sorriso
da criança, era um sorriso nitidamente forçado, mas ainda sim puro e passava
uma simpatia enorme do menino. Fiquei lá olhando o sorrido do garoto, fiquei
pensando na contradição entre o cenário urbano de várias pessoas correndo de um
lado para o outro, sempre preocupado com o tempo e aquele sorriso simples e
infantil do garoto, percebi o quanto nos apegamos a momentos ruins e como
ficamos estressados e chateados por qualquer coisa. De repente me pego
sorrindo, senti a necessidade de retribui aquele sorriso que fez com que meu
dia terminasse mais leve, esse momento de contemplação pareceu-me durar muito
tempo e só sai do transe quando o ônibus voltou a andar e não consegui mais ver
o menino. Volto minha atenção para o interior do ônibus e me assusto ao
perceber que as pessoas que estavam próximas a mim me encaravam com uma
expressão de estranhamento e outros com um riso de deboche, sei que deveria sentir-me
envergonhado, virar minha cara para janela, colocar o fone de ouvido, aumentar
o volume da rádio e fingir que nada aconteceu, mas eu ainda estava naquela sensação
estranha de não me preocupar com nada e simplesmente olhei para o povo e disse:
“Que foi? Pelo menos sou simpático.”
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