Entrei. Silêncio. Não havia ninguém a minha espera. Achei
estranho, mas continuei entrando, fui direto para a última prateleira, comédia/romance,
nunca fui uma pessoa de riso frouxo, não costumo rir de piadas (a não ser que
seja para não parecer antipático para alguém que estou acabando de conhecer),
mas de vez em quando consigo encontrar uma comédia romântica que me agrade,
posso citar como exemplo o filme “O amor não tira férias” ou “Amor a segunda
vista” (sou um grande fã de Sandra Bullock). Enfim, normalmente começo por essa
prateleira, pois é a última da sala (sem contar com a ala pornô é claro).
Chegando lá me deparo com algo inesperado. Lá estava ela, a
garota dos meus sonhos, lendo distraidamente a sinopse de um filme. Não lembro exatamente
quanto tempo fiquei parado admirando-a, pareceu-me uma eternidade. Vi os
melhores traços de lindas atrizes num só ser, olhos sensualmente asiáticos como
o da Lucy Liu, expressivos e brilhantes como os olhos da Audrey Hepburn, boca
pequena e carnuda da Scarlett Johansson, pele branca, lisa e macia como nenhuma
estrela de cinema terá sem maquiagem.
Ela olhou para mim. Despertei do meu transe atordoado,
tentando disfarçar. Ela deu um sorriso simpático. Eu retribuí com um abobalhado
e peguei o primeiro VHS que vi na frente e fingir ler a sinopse. Fiquei ali imaginando
se ela tinha percebido a minha bandeira, alguns minutos com o mesmo filme na
mão, praticamente sem me mover, nem sabia qual era o filme que estava em minhas
mãos, mas fingia uma concentração enorme na leitura do verso da capa.
A situação ficou tensa, eu estava muito nervoso e ela embora
parecesse tranqüila sei que também estava sentindo a tensão. Precisava
contornar o clima que criei, precisava falar algo, qualquer coisa, por mais
idiota que parecesse, mas o que?
- Êêr...você sabe onde foi o Sergio? – disse guardando o
filme que parecia ter o script inteiro ao invés da sinopse no verso pelo tempo
que demorei para “lê-lo”.
- Sergio? – disse olhando para mim.
- O funcionário da locadora. Quando você chegou também
estava vazio?
- Não, ele estava aqui. Mas saiu sem dizer nada. Deve voltar
daqui a pouco.
Pronto, o clima tinha amenizado. Mas e agora? O que falar?
- Você gosta de filme de romance é? – disse ela me poupando
do desespero de pensar em outro assunto para falar.
- Eu? – sem entender porque ela achava que eu gostava desse
gênero.
- É. Você ficou lendo com tanto interesse o filme “Doce
Novembro”.
- Ah! – soltei um riso envergonhado – É...é que minhas irmãs
gostam muito, ai estava levando um filme para elas e depois ia pegar um para
mim.
- Humm.
- E você? Gosta de que tipo de filme? – disse logo para não
deixar a conversa morrer.
- Humm...gosto de algumas comédias românticas, mas os filmes
que gosto mais são os de suspense.
- Sério? Eu também. Sou fã das sequências de Pânico.
- Nossa! Eu também adoro os três filmes do Pânico. O meu
preferido dos três é o terceiro, o que é estranho, pois normalmente os
primeiros filmes de sequência são os melhores.
- Também acho. – disse querendo concordar com tudo o que ela
dissesse - Aconteceu algo muito engraçado quando fui assistir Pânico 3 com uns
amigos, nós estávamos...
Nossa como estava aliviado, nossa conversa fluía tão
naturalmente. Nós gostávamos dos mesmos filmes, detestavam os mesmo,
conversamos sobre micos que pagamos no cinema, situações engraçadas de sessões
de filmes na casa dos amigos, até tivemos uma discussão calorosa sobre a
qualidade da interpretação de Sandra Bullock. Ficamos um bom tempo passeando
entre as prateleiras, fazendo comentários sobre os filmes e falando sobre as
nossas preferências. Estávamos tão conectados que o Sergio voltou, outras
pessoas entravam e saiam da locadora e nem percebíamos, estávamos ligados só no
que nos interessava no momento: eu, ela e nossa conversa.
No fim sai com 3 filmes: Pânico 3, Encontro Marcado e Doce
Novembro (não poderia ficar sem ver esse filme depois desse dia); e ela levou:
Amor a Segunda Vista (tive que fazer ela levar esse filme para ela mudar de
idéia sobre Sandra Bullock) e Os 13 Fantasmas (que eu recomendei falando que
era o melhor filme sobre fantasmas que tinha visto).
Nos despedimos de Sergio e fomos caminhando pela rua.
Descobri que ela tinha 15 anos (eu tinha 13), não morava em Botafogo, nem nas
proximidades, na verdade ela morava com a mãe em Campo Grande-RJ e
estava passando uns dias das férias com o pai que morava na Marquês de
Abrantes. Levei-a até o portão do prédio onde o pai morava e ao nos despedirmos
trocamos um breve sorriso acanhado e quando fui dar os dois beijos no rosto
corriqueiros entre os cariocas, ela me deu em selinho e falou: “foi um prazer
te conhecer. Espero esbarrar com você novamente na locadora” e entrou no
prédio. Fiquei lá parado. Atônico. Com os olhos arregalados e a boca ainda em bico. Sem saber o que
falar. Sem respirar por alguns segundos. Literalmente congelado.
Se fosse um filme romântico infanto juvenil este seria o
momento perfeito para entrar a musica romântica do final do filme com a câmera
subindo até mirar o céu azul, claro e límpido e aparecer de forma graciosa a
famosa frase final: The End.
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