terça-feira, 30 de abril de 2013

CDZ x CDZ Ômega (parte II)




Pois é, estou eu aqui de novo para falar sobre os Cavaleiros do Zodíaco Ômega e mais uma vez para falar sobre as coisas que me incomodam nesse anime. Tá...tá , sei que poderia escrever sobre outros animes, talvez falar do melhor anime que já assisti ou acabar com o pior anime que já vi (ou simplesmente falar de outra coisa mais relevante do que animação japonês), entretanto tem alguma coisa em CDZ Ômega que me incomoda bastante, à ponto de sentir a necessidade de escrever sobre ele.
Primeiramente gostaria de dizer que fiquei feliz em saber que não fui o único a achar bizarro toda essa nova roupagem que estão tentando implantar nos Cavaleiros do Zodíaco, li e ouvi muitos comentários contra essa saga, alguns reafirmavam o que eu já havia dito e outros acrescentavam outras críticas. Assim como também ouvi pessoas defendendo a saga de Ômega e chamando de mente fechada e tradicionalistas as pessoas que criticavam o novo anime, chegando até a fazer comentários mais pessoais do que relacionados ao tema em questão, para essas pessoas só quero dizer o seguinte: Sim, eu sou tradicionalista em alguns aspectos. Não sou contra as mudanças e a evolução, muito pelo contrário, sempre apoiei o novo, entretanto temos que aprender a respeitar o clássico. Quando você pega (no caso) um desenho que se tornou um clássico para dar um ar moderno a ele, tem-se que ter respeito com as suas regras, leis e história e ter um cuidado ainda maior com as mudanças. Costumo relacionar a mudança de Cavaleiros do Zodíaco com a mudança que Stephenie Meyer fez com os vampiros, foi uma mudança tão brusca que poderia falar que o vampiro da saga Crepúsculo é uma nova geração de criaturas com uma linhagem de semelhança com os vampiros (que em minha opinião tornaria o livro bem mais aceitável, apesar dessa não ser a única falha na obra). O mesmo poderia ser feito com Ômega, poderia dar ao anime outro nome e dizer que tem alguma referencia com a saga original de CDZ, assim como o próprio Kurumada fez, o B’tX é um mangá com uma história totalmente diferente de Cavaleiros, mas tem obvias referencias de CDZ nele (além dos traços).
Enfim, sem me prolongar mais do que já o fiz, voltei a escrever sobre o Ômega para falar sobre os novos murmurinhos que tenho escutado sobre o anime. Depois de muitos fãs da saga clássica terem reclamado dessas mudanças exacerbadas que fizeram, os produtores do novo anime resolveram modificar algumas coisas e voltar ao que estava funcionando muito bem na saga original, como por exemplo, os traços das armaduras, para mim é uma mudança insignificante, pois isso é o tipo de mudança que não influencia na essência, podemos ver na saga G dos CDZ que os traços são muito diferentes do original e mesmo assim o mangá é espetacular.
Mas a mudança que esta sendo mais comemorada é a volta das urnas das armaduras. Assim como eu disse no primeiro texto (segue link para quem ainda não leu: http://www.bululante.blogspot.com.br/2013/02/cdz-x-cdz-omega.html), a história das gemas “mágicas” era uma das mudanças que tinha me incomodado bastante, as gemas que os cavaleiros usavam para invocar as armaduras tornavam as coisas muito místicas, de onde vinham as armaduras? Do espaço? De dentro da gema? Ela é feita de energia ou é algo material? Ou é como uma onda eletromagnética que tem duas naturezas? Sem contar que tiraram uma dificuldade que existia no desenho clássico, pois não era qualquer um que conseguia carregar uma armadura, poderia ser o homem mais forte do mundo, mas se não soubesse liberar o cosmo a urna, assim como a armadura, iriam pesar como chumbo. Outra coisa que também privaram é ver a armadura se desmontando e sendo vestida no cavaleiro. Enfim, resolveram concertar isso e fizeram com que as novas armaduras (com traços mais angulados como era as de Kurumada) fiquem dentro das urnas e nossos jovens aventureiros estão carregando essa enorme caixa para cima e para baixo.
Ta tudo muito bom, ta tudo muito bem, mas os produtores não poderiam apenas mudar isso do nada e achar que o publico iria aceitar, então o que eles fizeram? Criaram uma história para explicar essa mudança e foi ai que eles erraram feio (erraram muito feio, erraram rude), mas vamos por partes. Na 1ª temporada do anime tem um episódio que aparece Kiki, Cavaleiro de Ouro da casa de Áries (uma das coisas boas do anime é ver a evolução dos personagens da saga clássica) consertando as armaduras dos cavaleiros de bronze antes deles enfrentarem os outros cavaleiros de ouro, pois então, como Kiki concertou as armaduras? Com pó de estrelas, seu cosmo e... e... só. Só isso! Cadê o sangue de cavaleiro? Quem não se lembra do Shiryu quase morrendo para dar seu sangue para Mu de Áries poder reconstituir a armadura dele e de Seiya? Ou da saga de Poseidon quando todas as armaduras dos cavaleiros de bronze estavam destroçadas pela batalha do santuário e todos os cavaleiros de ouro que sobreviveram deram seu sangue para restaurar as armaduras, o que demonstrou uma homenagem dos cavaleiros de ouro para com os de bronze e o reconhecimento deles como os futuros protetores da paz na Terra e da deusa Atena (sem contar que as armaduras deles ficaram mais fortes já que foram reconstruídas com sangue de cavaleiro e ouro, ajudando assim na vitória deles contra os marinas, cavaleiros de Poseidon). Ou até da saga de Hades quando Shion pinga um pouco de sangue da deusa Atena nas armaduras dos cavaleiros de bronze para reconstituí-las e que por isso eles conseguem usar todo o seu cosmo no castelo de Hades e no final da saga eles conseguem desenvolver as armaduras divinas. Ou seja, o sangue é o toque especial e essencial da reconstrução de uma armadura.
Não obstante eu deixei passar, tanto que nem foi um dos meus comentários no 1º texto que fiz sobre o assunto, só que dessa vez eles passaram dos limites. A história que inventaram para justificar a mudança do traço da armadura e o fim das gemas para as urnas foi que: uma armadura possui seu próprio cosmo (até ai beleza) e que aos poucos ela se regenera sozinha (humm... ficando estranho, mas aceitável), mas o segredo real da reestruturação da armadura é o cosmo do seu protetor, ou seja, qualquer cavaleiro que elevar muito o seu cosmo (queria saber até qual sentido, porque já vi cavaleiros atingindo o 8º sentido para elevar seu cosmo ao máximo para poder ir ao inferno sem morrer) pode reconstruir sua armadura sozinho.
Eu custo a acreditar que o segredo de consertar uma armadura passada de geração a geração para os cavaleiros de ouro da casa de Áries seja esse (na verdade acho que é passado para os cavaleiros da cidade de Jamil, não necessariamente um protetor da casa de Áries), custo mais ainda acreditar que Mu de Áries (mestre de Kiki) fazia com que os outros cavaleiros sangrassem até a quase morte só por diversão. Também quero descobrir até onde um cavaleiro tem que elevar o seu cosmo para que essa regeneração ocorra, já que teoricamente na saga clássica a elevação máxima do cosmo é no 8º sentido que você só atinge quando está à um passo da morte.
Está aí a comprovação do que uma pequena mudança sem respeitar a história do 1º criador pode ocasionar, ele torna a saga que já passou sem sentido nenhum, se sangue não serve para nada no conserto de uma armadura, por que Shiryu quase morreu? Por que os cavaleiros de ouro deram seu sangue? Por que só o sangue de Atenas restaurou as armaduras? Por que só os cavaleiros de ouro de Áries conseguem consertar as armaduras? Por quê? Por quê?
Para mim, antes tinham duas possibilidades deles concertarem esse anime:
1ª – Mudar algumas coisas para ficar mais próxima da original;
2ª – Tirar o nome “Cavaleiros do Zodíaco” do titulo e continuar como se fosse outro anime.
Entretanto essa primeira possibilidade já não é uma opção para mim. Se mudando uma coisa simples como as gemas para as urnas eles fizeram essa cagada toda (sim, eu preferiria que continuasse com as gemas a ver essa invenção absurda), imagine se fossem tirar as habilidades deles de controlarem elementos (isso me irrita profundamente), talvez eles matem todos os deuses gregos e criem um deus único, o Deus cristão, para justificar a mudança.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Resenha - Meu pé de laranja lima



José Mauro de Vasconcelos
Meu pé de laranja lima
Editora: Melhoramento
Rio de Janeiro, 2010 - 189 páginas
Idioma original: Português

Ontem fui ver o filme baseado no livro “Meu Pé de Laranja Lima” e me fez lembrar a história do livro, do quanto chorei, ri, fiquei com raiva... do quanto me envolvi ao lê-lo e resolvi fazer a resenha do livro mais tocante que já li.
Quem nunca sonhou em ter uma infância feliz, divertida, alegre, brincalhona, cheio de amigos, podendo correr para onde quiser, tomar banho de piscina, mar, rio, soltar pipa, contar histórias, jogar com os amigos da escola, ganhar presentes de natal e mostrar para os amigos, comer sorvete, doces e bolos a vontade, enfim, viver sua infância na plenitude do que a vida oferece. Zezé é um garoto que apesar das adversidades conseguiu extrair sempre algo de bom da vida.
A obra é semi-autobiográfica, conta a história de Zezé, um menino que nasceu numa família com grandes dificuldades financeira, cujo pai não consegue emprego e a mãe era ausente do ambiente familiar, pois tinha que trabalhar para sustentar uma família de 5 crianças mais o marido. Entretanto Zezé era uma criança muito criativa, ativa, inteligente e alegre, mas seu temperamento brincalhão o colocava em más situações, sendo considerado um diabinho pela família e sempre apanhando como castigo das traquinagens.
No meio dessa vida sofrida e cheia de privações, Zezé fez grandes amigos pelo caminho, pessoas que realmente gostavam dele e o ajudava a superar todos os maus que estava passando, como por exemplo, seu pé de laranja lima, apelidado de Minguinho que sempre estava pronto para escutar e conversar com seu dono e levá-lo as maiores aventuras cavalgando em seu cavalo branco. Assim também como a sua professora que viu em Zezé uma criança muito inteligente, gentil e justa.
Mas seu maior companheiro foi o Portuga, ou como poucos o chamam, Sr. Manuel Valadares. Zezé que no começo o considerava como seu maior inimigo, viu no velho Portuga, que tem o melhor carro do mundo, um grande amigo. Depois do começo dessa amizade Zezé passou a suportar todas as punições que lhe passavam com mais facilidade e também a se comportar mais para que pudesse se encontrar com seu melhor amigo sempre que quisesse.
Neste livro eu morri de rir com os comentários sinceros e diretos de Zezé, fiquei com raiva da família dele pelo modo como tratavam essa pobre criança e chorei de soluçar com as perdas e sofrimentos que esse menino passou. Para quem quer se emocionar com uma boa leitura recomendo o livro “Meu pé de laranja lima”, você não vai se arrepender.

terça-feira, 23 de abril de 2013

PARADA DE ÔNIBUS - A CONSULTA (parte I)



- Bom dia. – saúda a senhora.
- Bom dia - responde o rapaz se acomodando no banco da parada de ônibus.
Todos os dias, as 6:00AM, o jovem de 22 anos vai para a parada de ônibus do Itamarati para esperar o transporte da empresa onde trabalha, e todos os dias ele encontra essa senhora cheia de classe esperando o 4 (ônibus alternativo para Parnamirim) que sempre o saúda com um simpático “bom dia” e normalmente a conversa para por ai. Entretanto parece que existe uma lei não regulamentada que diz: “se durante pelo menos uma semana você encontrar todos os dias com uma mesma pessoa e o tratar com educação e respeito, por lei vocês são considerados amigos íntimos, tendo assim como benefício:
§ 1º - Perguntar sobre a família dele e falar sobre a sua;
§ 2º - Pedir favores em relação a profissão dele;
§ 3º - Falar sobre seus problemas e exigir conselhos.”
Como essa lei é de conhecimento popular, a cara senhora, com 3 semanas de convivência diária, sentiu-se a vontade de exigir seus direitos.
- Finalmente sexta-feira né? – disse a senhora tentando puxar um assunto.
- Com certeza. Semana pesada. – respondeu o jovem ainda com sono.
- Nem me fale. – disse se virando para o rapaz já se animando para continuar a conversa – Já comecei a semana com o clima meio pesado do final de semana.
- Hum. – respondeu por educação, pois na verdade ele ainda estava com muito sono.
- Nossa você sabe o que me aconteceu no final de semana passado? – esperou por uma resposta que não veio, mas isso não a intimidou – É que eu saí com uns amigos no sábado a noite e dentre eles tinha um amigo que tem problemas com bebida.
- Hum. – disse o jovem se virando para ela, percebendo que ela ia continuar a conversar de um jeito ou de outro.
- Então... faz um tempo que estou tentando ajudá-lo a parar de beber. Ele não quer ir para as reuniões do AA, por que não se considera alcoólatra...
- Nenhum deles considera.
- Pois é, por isso que quando ele sai a noite no final de semana, eu tento ir junto para tentar controlá-lo de alguma forma...
- Mas não adianta né?!
- Quando estou com ele normalmente ele não bebe, tirando o final de semana passado.
- Isso mostra que ele deve beber quando você não esta por perto.
- Então o que devo fazer? Não posso ficar no pé dele o tempo todo.
- E nem deve.
- Ele é um amigo tão querido. Não queria que ele se perdesse. – silêncio – Então, o que eu posso fazer.
- Não sei. O ideal é ele se conscientizar do problema.
- Pois é, mas como vou fazer isso?
- Não sei.
- Talvez se eu mostrar o mal que isso faz a sua saúde...
- Talvez.
- Ou então mostrar os perigos que ele passa ao beber.
- É.
- Mas eu já fiz isso tudo e de nada adiantou. Teria que abordá-lo de uma maneira diferente. Uma forma que o atinja diretamente. Uma coisa mais concreta do que as possibilidades de doenças e acidentes.
- Uhum.
Os dois permanecem um tempo calados, ela olhando para o céu com uma expressão pensativa, ele fica olhando para o nada com a cara inchada de sono. Até que num salto a senhora exclama:
- Já sei. – diz animada olhando para o seu confidente e ele “acordando” no susto. – Veja se vai dar certo.
- Humm. – resmunga ainda se recuperando do susto.
- É o seguinte, ao invés de falar aquilo que todos falam para alguém que é dependente químico, vou pegar as coisas que acontecem na vida dele e mostrar que aquilo com o que ele não esta satisfeito na vida poderia ser solucionado se ele parasse de beber ou pelo menos diminuísse a quantidade.  – concluiu olhando para seu novo amigo com uma expressão alegre. – e ai, o que acha?
- Bom. Não custa nada tentar.
- Ufa, ainda bem que pensamos em alguma saída, já estava ficando muito preocupada. – disse olhando para a rua para ver se seu ônibus estava chegando. – Eita, olha ai o 4. Demorou hoje né?! Mas foi bom, deu para a gente conversar bastante. – pegou sua bolsa, se levantou e esticou sua mão para o rapaz. – Muito obrigado pela ajuda e os conselho. Você é bem maduro para alguém da sua idade. Bom trabalho.
- De nada. Bom trabalho para você também.
Ele ficou lá pensando no que tinham conversado, tentando relembrar o que tinha respondido, tentando entender o que tinha acontecido e tentando lembra pelo menos qual era o nome dela.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Resenha - Auto da Compadecida



Ariano Suassuna
Auto da Compadecida
Saraiva de Bolso (edição especial)
Rio de Janeiro, 2012 - 157 páginas
Idioma original: Português

O Auto da Compadecida é uma história conhecida e adorada por todos os brasileiros. Uma peça teatral que foi adaptada para a televisão, cinema e livro, que conquistou a todos com seu alto teor de humor, regionalismo e com leves toques de crítica velada nos risos. Esta obra esta mais do que consagrada na cultura popular brasileira.
A obra passa-se em três atos: no primeiro ato é contada a história do enterro do cachorro; o segundo é sobre o gato que “descome” dinheiro e da gaita magia; e o terceiro ato mostra o julgamento divino dos mortos pecadores. Esta história é uma compilação de quatro contos populares de literatura de cordel. O livro tem a estrutura de um texto de peça teatral, no qual Suassuna transformou os contos de 3ª pessoa de estrutura narrativa dos cordéis em texto de prosa na 1ª pessoa.
O humor da obra é indiscutível, o padeiro chifrudo, o padre oportunista, o bispo ganacioso, a mulher fogosa do padreiro chorando a morte do cachorro, o frouxo e contador de histórias do Chico, até Manoel e Nossa Senhora tem seu ar cômico na história, mas o destaque com certeza fica com João Grilo e seus tramites para se dar bem.
João Grilo é um homem pobre, com pouca escolaridade, trabalhador que sonha em se dar bem na vida e para isso ele usa de sua inteligência e raciocino rápido para aproveitar todas as oportunidades que a vida lhe dá, entretanto cada história que ele inventa sempre acaba dando confusão e para contorná-la João Grilo acaba entrando numa confusão maior ainda e assim vai até que ele se sinta satisfeito e se dê bem. Esse personagem é trapalhão, trapaceiro e vive metendo ele e seu amigo Chicó em confusão, mas seu carisma e sua comicidade fazem com que sempre torçamos para que ele se dê bem no final.
Os diálogos são muito inteligentes, cheios de gírias regionais do interior do nordeste e, claro, cheio de ironia, mostrando o lado corrupto, individualista e ganancioso do ser humanos de uma forma bem engraçada, mas também mostra o lado puro do coração do homem, como o companheirismo, amizade, amor e fidelidade que em situações extremas sempre prevalecem.
O artifício de Suassuna de fazer com que um palhaço conte a história como se a platéia estivesse no circo e a peça acontecendo no picadeiro, torna o livro ainda mais encantador e lírico. Não é a toa que este livro se tornou um clássico e uma obra referencia da cultura brasileira, só o que posso fazer é me juntar a milhares de leitores que já tiveram o prazer de ler esta obra e em uníssono dizer com eles: “Recomendo. Leiam. Vocês vão rachar de rir. Não irão se arrepender.”

segunda-feira, 15 de abril de 2013

FORÇA DO PENSAMENTO



Meia hora de espera depois lá vem ele. Estico o meu braço, eu e mais uma dúzia e meia de pessoas. Torço para ele parar na minha frente, mas por azar ele passa 1 metro de onde estava, mais do que o suficiente para me obrigar a entrar numa fila disforme para embarcar. Em passos lentos até a porta, no meio do empurra-empurra dou uma espichada para o lado de dentro, calculo aproximadamente quantas cadeiras vagas tem no seu interior para saber se sobrará uma para mim quando subir. Enfim a minha vez, passo o cartão na máquina e giro a roleta, observo o corredor e vejo dois assentos desocupado na ultima fileira, fui até lá e sentei. Finalmente sentado, finalmente relaxado. Agora é só curtir a viagem, talvez tirar um cochilo e esperar chegar na minha parada. Entretanto quando estava ali sentado pensando na vida, com fone de ouvido curtindo Audioslave, entra uma das mulheres mais bonitas que tinha visto na minha vida. O sono passou, o cansaço passou, a música acabou, toda a cena ficou cinza tirando a mulher que era a único ser colorido e iluminado a minha frente. Fiquei a observar seus movimentos que pareciam estar em câmera lenta, todo o gesto era fascinante, o sorriso, a piscada de olho, a mão entregando o dinheiro, o quadril ajudando a girar a catraca, o caminhar... ah o caminhar, mesmo estando num ônibus lotado, ela, naquele corredor apertado, parecia que estava desfilando numa passarela com o vestido a esvoaçar com os imaginários ventiladores estrategicamente posicionados e a luz a te acompanhar. Depois de tamanha admiração pensei: “bem que esse gordo poderia se levantar para ela sentar ao meu lado. Se isso me acontecesse não perderia essa chance.”. E como se o homem que estava ao meu lado tivesse escutado meus pensamentos, ele se levantou, pediu parada e se encaminhou para a porta de saída. E como um desejo realizado por um gênio da lâmpada mágica, ela sentou ao meu lado. Entrei em pânico! Ou talvez choque. Quem sabe os dois. Não consegui acreditar na coincidência. Mas e agora? Como poderia abordar uma pessoa totalmente estranha dentro de um ônibus? Que conversa poderia puxar que não parecesse estranha? Desisti, não tinha como ter alguma chance com uma mulher como aquela, mas pensei: “mas seria demais se ela falasse comigo.”
- Sabe me dizer se esse ônibus é Maria Lacerda ou Abel Cabral?
Não, isso não pode estar acontecendo. É coincidência demais. Tive meu segundo desejo realizado. Realmente tem algum gênio a meu favor, talvez não fosse da lâmpada, mas devo ter esfregado alguma garrafa para merecer isso. Abri a minha boca para responder e tentar puxar uma conversa, mas só saiu:
- Maria.
- Ai que bom. Obrigada!
Um sorriso foi o máximo que consegui esboçar como resposta. Não podia acreditar que o destino estava me dando todas as oportunidades e eu não as estava aproveitando, como eu detesto essa timidez que me ocorre nos momentos menos propícios. Para tantas coisas eu tenho uma cara de pau sem tamanho e para outras sou simplesmente um banana. Enfim, fiquei lá me rebaixando a mais baixa das criaturas covardes, até que me veio uma idéia. Apesar de ser um absurdo, não custava nada tentar, afinal nas ultimas duas vezes funcionou. Vamos lá, é o meu terceiro e último desejo. Concentrei todas as minhas forças nesse pensamente e fiz o desejo: “bem que ela poderia me beijar sem razão aparente, simplesmente porque deu vontade”. Ela se moveu. Será que iria realmente acontecer? Será que realmente tinha ganhado um gênio que estava realizando os meus desejos? Por alguns segundos eu realmente estava acreditando nessa possibilidade absurda, mas no segundo seguinte cai na real. Ela apenas se levantou, pediu parada e desceu do ônibus. É... realmente não podemos deixar tudo na mão do destino, uma hora ele se cansa.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Resenha - Conto de inverno



William Shakespeare
Conto de Inverno
Editora UFRJ
Rio de Janeiro, 2005 - 297 páginas
Idioma original: Inglês
Tradutor: Aíla de Oliveira Gomes

Primeiro livro de Shakespeare que leio até o final e devo dizer que estava com receio de não entender nada com a linguagem rebuscada da época, entretanto confesso que foi bem fácil de ler, me surpreendi com a fluidez da leitura e acabei despertando a curiosidade de ler outras obras deste autor tão renomado.
A história é contada na estrutura de uma peça de teatro, o que também foi uma novidade para mim, achei bem interessante imaginar as cenas sendo apresentadas no palco. Apesar de ter apenas diálogos, são inseridos elementos teatrais para compor a história, como exemplo, a indicação quando os personagens entram e saem do cenário, a explicação de qual cenário que acontece numa determinada cena ou até a indicação para quem a fala esta sendo direcionada.
A peça conta a história de dois reis muito amigos, o rei da Sicilia e o rei da Boemia, entretanto durante uma visita do rei da Boemia ao da Sicilia, este segundo levado pelo ciúme acusou o amigo e a esposa de traição, a partir daí acontecem várias desventuras que levam a história à um final surpreendente (e até fantasioso na minha opinião).
A peça é bem desenvolvida, contando a história de maneira direta, em todas as cenas ocorre um acontecimento que leva a outra cena, sem enrolação, a não ser talvez na cena onde o rei da Boemia descobre sobre o amor secreto do filho, aquela cena para mim não teve muito sentido, não era uma cena engraçada, nem serviu para dar expectativa, muito menos suspense, simplesmente desnecessário.
Além desta cena que citei outra parte da história que não me agradou muito foi o final da peça. Não contarei o final, mas posso dizer que o achei muito fantasioso e forçado, sinto que faltou coragem para fazer um final menos “viveram felizes para sempre”m principalmente depois de acontecer tanta desgraça durante a história é estranho que o final seja bom para todos. Talvez para peça tenha um impacto mais forte, algo mais significativo, atrativo, mas particularmente não gostei.
Apesar desses adventos, eu gostei muito da leitura, tanto que fiquei com vontade de ler outros livros de Shakespeare (sem ter o medo de ser rebuscado demais). Recomendo essa leitura, é bastante interessante ler um livro na estrutura de uma peça, nos dá uma visão geral do espetáculo, imaginando como seriam os cenários, os figurinos, as luzes, os efeitos... chegando até a estimular a ideia de executar a peça com os amigos.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Poemas



AMORDOTÔ

E no canto em que me encontro
Limito o meu encanto
Que demonstro no meu canto

Canto para você tanto
Amor que não conto
Nem o falar do conto
Nem o contar do conto

Vejo assim, portanto
Que mesmo tentando tanto
Encantar o seu encanto

Permaneço nesse canto
Sozinho, triste e tonto
Apaixonado neste ponto
Lamentando pelo meu torto engano.


* Esse fiz no improviso para uma amiga que estava chorando seus desprazeres amorosos.

GAROTO "CONTEMPORÂNEO"



Mais um dia se acabando. Mais um por do sol que vejo sumindo entre os prédios. Mais uma vez vejo as mesmas cenas em movimento através dessa janela. É incrível como essa cidade é dinâmica, todos os dias eu faço as mesmas coisas, trabalho, faculdade, curso de idioma, kung fu... todos os dias eu faço o mesmo trajeto de ida, o mesmo trajeto de volta, teoricamente tudo deveria ser igual, permanecer igual, mas se prestar bastante atenção você vê que todo dia é diferente do próximo, nas pequenas coisas, como você ir na padaria onde você toma aquele cafezinho toda manhã e perceber que o café esta diferente porque mudaram o funcionário da padaria; ou ir na banca ao lado do seu trabalho para jogar papo fora e ler um jornal no horário de almoço e descobrir que a banca de Seu Ricardo fechou; ou até os dias que você percebe a mudança de humor do seu chefe o que pode acarretar num dia de trabalho mais estressante ou mais tranqüilo. São essas pequenas mudanças que não deixa as nossas vidas moldada pela sociedade capitalista que vive numa busca insana por consumo e consequentemente por produção, o que faz com que vivamos numa rotina incessante de trabalho e estudo muitas vezes deixando de lado nosso tempo de prazer, fique suportável, ou até divertida. Sim, divertida. Por que não? Eu por exemplo, estou no mesmo ônibus lotado que pego todos os dias, por sorte, hoje sentado, olhando para janela, vendo a cidade em movimento e pensando na vida, quando o ônibus para por causa do trânsito e levantando meu olhar vejo um cartaz do colégio Contemporâneo. Passo por esse colégio todos os dias no mesmo ônibus, mas só hoje reparo nesse cartaz e de alguma forma ele me chamou muita atenção, fiquei um tempo analisando-o. O cartaz era bem simples, o fundo era amarelo e azul, bem grande vinha o nome do colégio em letras garrafais, antes do nome tinha uma imagem de um menino, devia ter uns 6/7 anos, com as mãos em concha segurando uma muda com um punhado de terra, mas o que me roubou a atenção foi o sorriso da criança, era um sorriso nitidamente forçado, mas ainda sim puro e passava uma simpatia enorme do menino. Fiquei lá olhando o sorrido do garoto, fiquei pensando na contradição entre o cenário urbano de várias pessoas correndo de um lado para o outro, sempre preocupado com o tempo e aquele sorriso simples e infantil do garoto, percebi o quanto nos apegamos a momentos ruins e como ficamos estressados e chateados por qualquer coisa. De repente me pego sorrindo, senti a necessidade de retribui aquele sorriso que fez com que meu dia terminasse mais leve, esse momento de contemplação pareceu-me durar muito tempo e só sai do transe quando o ônibus voltou a andar e não consegui mais ver o menino. Volto minha atenção para o interior do ônibus e me assusto ao perceber que as pessoas que estavam próximas a mim me encaravam com uma expressão de estranhamento e outros com um riso de deboche, sei que deveria sentir-me envergonhado, virar minha cara para janela, colocar o fone de ouvido, aumentar o volume da rádio e fingir que nada aconteceu, mas eu ainda estava naquela sensação estranha de não me preocupar com nada e simplesmente olhei para o povo e disse: “Que foi? Pelo menos sou simpático.”

segunda-feira, 1 de abril de 2013

AMOR DE LOCADORA



Entrei. Silêncio. Não havia ninguém a minha espera. Achei estranho, mas continuei entrando, fui direto para a última prateleira, comédia/romance, nunca fui uma pessoa de riso frouxo, não costumo rir de piadas (a não ser que seja para não parecer antipático para alguém que estou acabando de conhecer), mas de vez em quando consigo encontrar uma comédia romântica que me agrade, posso citar como exemplo o filme “O amor não tira férias” ou “Amor a segunda vista” (sou um grande fã de Sandra Bullock). Enfim, normalmente começo por essa prateleira, pois é a última da sala (sem contar com a ala pornô é claro).
Chegando lá me deparo com algo inesperado. Lá estava ela, a garota dos meus sonhos, lendo distraidamente a sinopse de um filme. Não lembro exatamente quanto tempo fiquei parado admirando-a, pareceu-me uma eternidade. Vi os melhores traços de lindas atrizes num só ser, olhos sensualmente asiáticos como o da Lucy Liu, expressivos e brilhantes como os olhos da Audrey Hepburn, boca pequena e carnuda da Scarlett Johansson, pele branca, lisa e macia como nenhuma estrela de cinema terá sem maquiagem.
Ela olhou para mim. Despertei do meu transe atordoado, tentando disfarçar. Ela deu um sorriso simpático. Eu retribuí com um abobalhado e peguei o primeiro VHS que vi na frente e fingir ler a sinopse. Fiquei ali imaginando se ela tinha percebido a minha bandeira, alguns minutos com o mesmo filme na mão, praticamente sem me mover, nem sabia qual era o filme que estava em minhas mãos, mas fingia uma concentração enorme na leitura do verso da capa.
A situação ficou tensa, eu estava muito nervoso e ela embora parecesse tranqüila sei que também estava sentindo a tensão. Precisava contornar o clima que criei, precisava falar algo, qualquer coisa, por mais idiota que parecesse, mas o que?
- Êêr...você sabe onde foi o Sergio? – disse guardando o filme que parecia ter o script inteiro ao invés da sinopse no verso pelo tempo que demorei para “lê-lo”.
- Sergio? – disse olhando para mim.
- O funcionário da locadora. Quando você chegou também estava vazio?
- Não, ele estava aqui. Mas saiu sem dizer nada. Deve voltar daqui a pouco.
Pronto, o clima tinha amenizado. Mas e agora? O que falar?
- Você gosta de filme de romance é? – disse ela me poupando do desespero de pensar em outro assunto para falar.
- Eu? – sem entender porque ela achava que eu gostava desse gênero.
- É. Você ficou lendo com tanto interesse o filme “Doce Novembro”.
- Ah! – soltei um riso envergonhado – É...é que minhas irmãs gostam muito, ai estava levando um filme para elas e depois ia pegar um para mim.
- Humm.
- E você? Gosta de que tipo de filme? – disse logo para não deixar a conversa morrer.
- Humm...gosto de algumas comédias românticas, mas os filmes que gosto mais são os de suspense.
- Sério? Eu também. Sou fã das sequências de Pânico.
- Nossa! Eu também adoro os três filmes do Pânico. O meu preferido dos três é o terceiro, o que é estranho, pois normalmente os primeiros filmes de sequência são os melhores.
- Também acho. – disse querendo concordar com tudo o que ela dissesse - Aconteceu algo muito engraçado quando fui assistir Pânico 3 com uns amigos, nós estávamos...
Nossa como estava aliviado, nossa conversa fluía tão naturalmente. Nós gostávamos dos mesmos filmes, detestavam os mesmo, conversamos sobre micos que pagamos no cinema, situações engraçadas de sessões de filmes na casa dos amigos, até tivemos uma discussão calorosa sobre a qualidade da interpretação de Sandra Bullock. Ficamos um bom tempo passeando entre as prateleiras, fazendo comentários sobre os filmes e falando sobre as nossas preferências. Estávamos tão conectados que o Sergio voltou, outras pessoas entravam e saiam da locadora e nem percebíamos, estávamos ligados só no que nos interessava no momento: eu, ela e nossa conversa.
No fim sai com 3 filmes: Pânico 3, Encontro Marcado e Doce Novembro (não poderia ficar sem ver esse filme depois desse dia); e ela levou: Amor a Segunda Vista (tive que fazer ela levar esse filme para ela mudar de idéia sobre Sandra Bullock) e Os 13 Fantasmas (que eu recomendei falando que era o melhor filme sobre fantasmas que tinha visto).
Nos despedimos de Sergio e fomos caminhando pela rua. Descobri que ela tinha 15 anos (eu tinha 13), não morava em Botafogo, nem nas proximidades, na verdade ela morava com a mãe em Campo Grande-RJ e estava passando uns dias das férias com o pai que morava na Marquês de Abrantes. Levei-a até o portão do prédio onde o pai morava e ao nos despedirmos trocamos um breve sorriso acanhado e quando fui dar os dois beijos no rosto corriqueiros entre os cariocas, ela me deu em selinho e falou: “foi um prazer te conhecer. Espero esbarrar com você novamente na locadora” e entrou no prédio. Fiquei lá parado. Atônico. Com os olhos arregalados e a boca ainda em bico. Sem saber o que falar. Sem respirar por alguns segundos. Literalmente congelado.
Se fosse um filme romântico infanto juvenil este seria o momento perfeito para entrar a musica romântica do final do filme com a câmera subindo até mirar o céu azul, claro e límpido e aparecer de forma graciosa a famosa frase final: The End.