- Bom dia. Quanto tempo eu não te
vejo por aqui. – disse o jovem que estava chegando na parada de ônibus.
- Bom dia. Pois é, tem uma colega
do trabalho que mora aqui por perto e tem me dado carona. – disse a loira senhora
sorrindo para o seu colega de parada.
- E hoje ela não vai?
- Não. Ela esta doente.
- Ah tá. Também com esse tempo
maluco não tem quem não fique no mínimo gripado.
- Pois não é?! – segue um minuto
de silêncio. – Na verdade ela não deve estar doente.
- Como assim? – disse o “amigo”
sem entender.
- Ela deve ter fingido essa
desculpa para não me dar carona. – disse ela ainda com um sorriso no rosto como
se não ligasse.
- Mas porque ela faria isso? Não
foi ela que ofereceu a carona?
- Exatamente. – disse demostrando
insatisfação. – Não fui eu que pedi. Ela que ofereceu.
- Eu heim. Povo louco.
- Vaca! Isso é o que ela é. Uma
vaca! – já não conseguindo conter a raiva.
- É. – concordou assustado o
jovem meio incerto se deveria comentar alguma coisa.
- Sabe o que essa vaca fez? –
disse virando de frente para o confidente e encarando-o. Em que furada que ele
foi se meter.
- Ela fez algo mais além dessa
sacanagem?
- Se ela fez algo? Ora se fez.
Sabe o que ela fez? – já respondendo antes mesmo dele pensar no que falar – Ela
espalhou para o colégio todo que eu era uma chata que fica ligando de madrugada
para ela pedindo carona e que além de pedir eu ainda fico cobrando os dias que
ela atrasa. – parou para respirar.
- Que mulher sem noção.
- E sabe o que realmente acontece?
Primeiro, eu nunca pedi carona para ela, todas a vezes foi ela que ofereceu. –
disse enumerando com os dedos. - Segundo, eu não fico ligando para ela de
madrugada para lembra-la da carona. Terceiro, os dois dias que liguei pra ela
de manhã foi porque ela tinha ficado de me dar carona e eu fiquei esperando por
ela mais de meia hora do horário combinado e eu liguei mais para saber se tinha
acontecido alguma coisa do que pela carona. E pior, ela não ia para o colégio e
nem me ligou para avisar, resultado, cheguei 1 hora e meia atrasada.
- Tem gente que faz cada escolha
bizarra para fugir da situação de dizer a verdade. Custava ela chegar a você e
falar que não ia dar mais a carona? Sei lá. Poderia dizer que ela vai um pouco
mais tarde do horário que você normalmente vai.
- Pois é. Qualquer coisa seria
melhor do que espalhar uma mentira e ainda me pintar de chata diante dos
outros.
- Desminta esse boato mulher.
- Deixa quieto. Não vai valer a
pena o esforço – disse descontente – Sem contar que vai ser a palavra de uma
contra a outra, a mentira nunca vai ser realmente desmentida.
- Verdade
- Ahhh, mas como eu fico possessa
com essas coisas. – disse bufando. – Eu faço questão agora de nunca mais pegar
carona com ela.
- Não acredito que ela ainda tenha
cara de pau de oferecer carona depois disso. – disse o garoto descrente.
- Eu não duvido. Bem capaz dela
agir como se nada tivesse acontecido. Aquela falsa. – parou um pouco para
respirar e então não conseguiu conter. – Mas eu não aceito mais a sua carona. - mais uma pausa -Vaca.
- Mas não deixe isso abalar você
não. Deixe ela para lá, não pegue mais carona com ela e se limite apenas a
dirigi-la frases cordiais como “oi” e “bom dia”.
- Verdade. As pessoas que me
conhecem sabe que eu não faria algo assim.
- Pois é.
- Mas que dá raiva conviver com
gente falsa assim isso dá. – disse olhando para a rua para ver se o seu ônibus estava
vindo, mas ela leva um susto quando vê um Siena branco vindo no final da rua. –
Olha lá. É ela.
- Sério? – disse o jovem curioso
procurando o carro.
- Sim. O Siena branco. Aposta
quanto que ela vai passar por aqui e fingir que nem me viu?!
Enquanto a senhora disfarçava, o
seu colega ficava observando o Siena para ver o que ia acontecer. Quando o
carro foi chegando perto da parada ele foi diminuindo a velocidade até parar de
frente a parada de ônibus onde os dois estavam. A senhora continuou a fingir
que não estava vendo. A mulher que estava dentro do carro buzinou. Vendo que
não poderia mais fingir a loira virou para sua falsa amiga e a viu acenando
para ela entrar no carro com um sorriso no rosto. A senhora olhou para o seu
confidente, olhou para o carro, voltou a olhar seu confidente e no meio da
confusão da situação ela se levantou deu um breve “tchau” sem graça para o seu
companheiro e entrou no carro esbanjando simpatia.